Trabalho é feito com regras apertadas de segurança para evitar a covid-19. Há quintas com equipas que podem substituir outras se alguém ficar doente.
Corpo do artigo
Até há pouco tempo, Marlene e Clara partilhavam a garrafa de água durante os trabalhos nas vinhas da Quinta do Crasto, no concelho de Sabrosa. Na vindima deste ano, o costume é proibido. Na adega cumprem-se regras rígidas de segurança. Há equipas que podem substituir outras rapidamente.
São alguns cuidados para prevenir a disseminação da covid-19 nas quintas do Douro, onde a colheita das uvas entra esta semana em velocidade de cruzeiro. Evitar a partilha de objetos, distanciamento de segurança, uso de máscaras em espaços fechados, desinfeções e grupos reorganizados são algumas das recomendações dos guias de vindima em tempo de pandemia distribuídos às quintas pela Associação Nacional das Denominações de Origem Vitivinícolas e pela Associação das Empresas de Vinho do Porto.
Em concelhos durienses, como Murça ou São João da Pesqueira, foram feitas ações de esclarecimento para os comportamentos adequados a adotar. Até porque no caso de ocorrerem contágios, poderiam comprometer a vindima, já que as uvas não ficam à espera de dias melhores.
Na Quinta do Crasto, José Pereira encarrega-se de distribuir o pessoal pelas vinhas de acordo com orientações superiores e zela pelo cumprimento das medidas de segurança.
"Tem corrido bem e espero que continue assim até ao final da vindima". É também o desejo do proprietário, Tomás Roquette, perante uma campanha "completamente diferente do que é habitual". Houve o desafio de adaptação à nova realidade e agora há o de "não parar e tentar fazer o trabalho o mais rápido possível e de forma segura".
Para que tudo corra bem numa empresa com cerca de 80 trabalhadores em diversos setores e vendas anuais de 1,5 milhões de garrafas de vinho, foram feitas algumas reuniões e criadas "todas as condições para os proteger". Roquette costuma dizer que estão "todo o ano a gerar a criança para que nasça nesta altura e tudo tem de estar preparado para que as coisas corram pelo melhor". Os colaboradores externos são "sensibilizados para o facto de este ser um ano diferente e que é preciso cumprir outro tipo de regras".
A vindima não espera
Os cuidados são redobrados na adega. "Temos de seguir normas a que não estávamos habituados", nota o chefe de enologia da Quinta do Crasto, Manuel Lobo, frisando que é preciso ter "alguma rigidez no seu cumprimento", pois "não se pode arriscar a paragem de todo o processo". "A vinha não espera e temos de cortar as uvas no seu ponto alto qualitativo para podermos fazer vinhos de grande qualidade" precisa.
De acordo com o enólogo, há uma "separação de grupos para que não se cruzem" e se existir algum contágio "pode entrar uma equipa diferente".
No terreno ocorre a mesma coisa. "Se houver um problema no Crasto, pode vir uma equipa de outras vinhas que possuímos".
O enoturismo da quinta foi reaberto no início de junho e "está a ser perfeitamente possível a convivência entre os trabalhos de vindima e os visitantes", explica Tomás Roquette, até porque "não há qualquer contacto" entre as pessoas de um lado e do outro. Salienta que, normalmente, os turistas gostam de participar na colheita, seja a cortar uvas, a escolhê-las ou a pisá-las nos lagares, mas "este ano isso não é possível".
Ano desafiante
Pandemia à parte, o ano está a ser desafiante. "Tivemos um inverno generoso em chuva, que também abundou na primavera, calor excessivo em julho e início de agosto", recorda Manuel Lobo. Apesar disso, "as uvas brancas entraram com muito equilíbrio, dando origem a vinhos não muito alcoólicos, que são preferidos por alguns mercados internacionais".
As uvas tintas, cujo corte começou a meio da semana passada, "estão a chegar muito sãs, mas ainda é cedo para fazer um diagnóstico a 100%".