Podem só percorrer cinco metros por hora, mas vendem-se a alta velocidade. Os caracóis são no Norte um negócio em expansão, mais do que um petisco.
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A helicicultura, produção de caracóis, é um negócio em crescimento, embora ninguém aponte com exatidão o número de pessoas que emprega ou as toneladas produzidas. É uma atividade que se tem vindo a profissionalizar nos últimos anos.
Mário Serra é um dos novos produtores de caracol da região. Tem 27 anos e dedicou-se a esta área como uma forma de conseguir um rendimento extra. Pode ser uma atividade a tempo parcial, mas garante: "Não é uma brincadeira. É uma pequena indústria".
Tem uma maternidade com milhares de caracóis reprodutores, na Trofa. Os moluscos são hermafroditas e podem produzir 70 a 100 ovos por postura. "Enterram-se para deixar os ovos", explica Mário enquanto remexe a terra de um vaso à procura de uns pequenos ovos brancos.
Esses caracóis bebé, os alevins, são vendidos em cuvetes de cinco mil unidades e levados para explorações onde ficam a crescer, até estarem prontos a ser vendidos. Hélder Silva, designer de cablagens, tem uma dessas explorações, em Vila Nova de Gaia. Dedica-se aos caracóis também a tempo parcial, ao fim do dia, quando regressa do trabalho. "Eles comem os hortícolas e também as rações que lhes damos. Temos uma de engorda e outra de acabamento". Queria dar uso às terras e foi no pequeno animal que encontrou a rentabilidade pretendida. "De inverno podem estar aqui cinco, seis meses. De verão, o crescimento demora menos tempo e podem precisar de apenas quatro meses para estarem prontos".
Exportação absorve quase todo o produto
Márcio e Hélder integram o grupo de 14 helicicultores que em 2016 formou uma cooperativa, hoje instalada em Lousado, Famalicão.
A cooperativa, Widehelix, não tem produto que chegue para as encomendas. "Este ano só conseguimos satisfazer 30 a 40% das encomendas que tivemos e quase a totalidade do caracol vai para fora", explica Miguel Oliveira, administrador da cooperativa.
Vendem-nos, em caviar, cozinhados ou ao natural, para Itália e Espanha e só não vendem mais porque não têm. "Há carência de produto. Não chega para o consumo que o mercado tem. Há muito potencial para crescer. Pelo nosso tipo de estruturas produtivas e clima, conseguimos ter o caracol mais cedo do que a maior parte dos países da Europa. O consumo aumenta a partir de abril e nessa altura mais nenhum país tem caracol disponível como nós", salienta. O preço por quilo pode variar entre os três e os seis euros por quilo.
A cooperativa recebe inúmeros pedidos de pessoas que se querem iniciar no negócio. Os sócios dão formação na área, constroem as estruturas e fornecem as rações, por eles magicadas, para que o produto seja melhor, mais competitivo.
Enquanto o caracol português segue viagem para fora do país, no mercado interno o caracol consumido é na maioria proveniente de Marrocos.