Dezasseis noivos de Santo António casaram-se em Lisboa. Alguns ficaram surpreendidos com o aparato.
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O olhar de Rui Barros não esconde a surpresa enquanto desce o Largo de Santo António da Sé de Lisboa, lotado de turistas e outros curiosos de telemóvel em punho para filmarem as estrelas do dia. "Não tínhamos noção que movimentava tanta gente", confessa o recém-marido de Joana, que sempre imaginou que teria uma cerimónia "simples". A mulher também não disfarçava a admiração. "São imensas pessoas. Sinto-me famosa por um dia", sorri. Duas horas antes, ao início da tarde deste domingo, entraram na Sé de Lisboa para, num total de 11 casais, darem o nó. De manhã, outros cinco casaram pelo Civil.
Pouco passava das 14 horas quando as noivas de Santo António começaram a chegar em carros clássicos ao Largo da Sé, dominado pelo som da agitação das gaivotas no céu, atrapalhadas com a presença de um drone. As buzinadelas aguçavam a curiosidade dos turistas, muitos ali pela primeira vez para verem os casamentos mais populares da capital. Recebidas com aplausos e elogios, algumas mais desinibidas, outras mais nervosas, as noivas tentavam ainda habituar-se ao aparato e corresponder aos pedidos dos fotógrafos para posarem.
Suportar calor à sombra
Enquanto a cerimónia religiosa decorria, cá fora as temperaturas que chegaram a ultrapassar os 30 graus não demoveram os turistas de Norte a Sul do país e de outras partes do mundo. Alfredo Castro vive em Aveiro e já vem aos casamentos desde 1971, à exceção dos 23 anos de interrupção do evento, entre 1974 e 1997. "Gosto imenso disto e meti o vício à minha mulher. Desde aí vimos sempre", conta. Abrigado, juntamente com amigos, debaixo de um chapéu-de-sol, não arredaram pé da porta da Sé, mas muitos acabaram por ir para os cafés ou sombras para suportarem o calor.
Rui Silva, natural de Alfama e emigrante na Suíça há 44 anos, sempre que pode não falha o evento. "Gosto muito de vir porque são as minhas raízes", emociona-se. A mulher, Júlia Silva, está mais interessada nos vestidos das noivas e em "mostrar a tradição à filha".
Já Inma e Marcela, de Barcelona, como outros turistas, estavam ali pela primeira vez. "É ainda mais bonito quando sabemos que é a Câmara de Lisboa, através de patrocínios, que apoia estes casamentos. Faz sentido gastar dinheiro com eventos tão bonitos, estou fascinada", partilha Marcela.
Girassol ao Santo
Enquanto a banda da Sociedade Filarmónica União e Capricho Olivalense, dos Olivais, treinava os últimos acordes antes da saída dos noivos, cá fora sentia-se a impaciência, que crescia com a subida da temperatura. Poucos minutos depois das 16 horas, os recém-casados foram recebidos com aplausos e centenas a gritarem "viva os noivos" à saída da Sé. Um a um, os casais mais famosos de Lisboa iam juntando-se na escadaria da Sé para a tradicional fotografia de grupo, ao som da música "Marry You" de Bruno Mars.
No caminho para os Paços do Concelho, onde os cinco casais do Civil os esperavam, ainda passaram pelo Largo de Santo António para colocarem um girassol junto ao santo, como já é tradição. Liliana Lamego e José Silva já queriam casar há 18 anos, o tempo de namoro, e não conseguiam esconder a felicidade visível nos olhares cúmplices. "Estou muito feliz. Não dormi nada com a ansiedade, mas valeu todo o esforço", confessou Liliana. De olhar fixo na mulher, muito emocionado, José tinha mais dificuldade em falar. "Tenho a noiva mais linda, é o que consigo dizer".