O presidente da administração do hospital Amadora-Sintra reuniu-se, esta quarta-feira, com a ministra da Saúde e admitiu dificuldades na realização das escalas de cirurgia geral devido ao "número limitado de cirurgiões" que dispõe. À saída, Luís Miguel Gouveia garantiu que a administração mantém-se em funções.
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Depois de no dia anterior a ministra da Saúde ter afirmado que, da reunião com o conselho de administração do hospital Fernando Fonseca (também conhecido como Amadora-Sintra) iam sair "soluções e, também, consequências", o presidente da unidade, Luís Miguel Gouveia, pouco adiantou sobre as soluções à saída do encontro. O gestor, nomeado para o cargo em julho de 2023, assegura que a administração mantém-se no cargo, dando conta que, no diálogo com Ana Paula Martins, foi discutido um plano que o hospital tem para a cirurgia geral.
"Nós mantemo-nos em funções", afiançou. Quanto ao encontro com a ministra da Saúde, "foi uma reunião muito proveitosa, na qual falamos de um plano que temos para a cirurgia geral. É de foro público as contingências que a cirurgia geral atravessa. Quando tomamos posse, já havia um problema que está a ser ultrapassado agora". Luís Miguel Gouveia reconheceu que o hospital tem um "número limitado de cirurgiões" e, por essa razão, não conseguiram completar a escala da urgência de cirurgia geral por cinco vezes em janeiro passado.
"Sabemos que temos um número limitado de cirurgiões: nove especialistas pertencem ao quadro. Temos prestadores que trabalham diretamente com o serviço de cirurgia geral e temos também muitos prestadores que são especialistas. Temos, atualmente, 22 médicos prestadores para assegurar a escala da urgência de cirurgia geral. Em janeiro, ativámos cinco vezes o plano de contingência em períodos em que considerámos que não estavam reunidas as condições e, como trabalhamos em rede no SNS, os utentes são dirigidos a outras unidades" hospitalares, explicou o gestor.
Quanto aos longos tempos de espera na urgência, que, no fim de semana passado chegaram às 15 horas - o que a ministra da Saúde considerou "inaceitável" -, Luís Miguel Gouveira sublinhou que existem "picos de afluência", ao que acresce "um número elevado de utentes no serviço de observação (SO)".
"Somos um hospital com um número limitado de camas para a população que servimos [meio milhão de utentes]. Temos 160 camas contratualizadas no exterior, 80 são casos sociais. O hospital tem de assumir essa responsabilidade, porque não temos respostas para acolher essa tipologia de situações. Também temos um número elevado de utentes em SO e há dias de pico. Não é por falta de profissionais nem de dedicação dos profissionais da urgência", assinalou ainda.
Perda de idoneidade formativa
Outra preocupação da administração do Amadora-Sintra é a eventual perda de idoneidade formativa. No passado dia 15 de janeiro, a Ordem dos Médicos retirou a idoneidade formativa à cirurgia geral daquele hospital por "manifestas deficiência na capacidade de formar internos". A decisão foi tomada com base no parecer do Colégio de Cirurgia Geral da Ordem. O hospital já contestou o relatório do colégio da especialidade e vai pedir uma reunião urgente ao bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes.
"Temos também a questão da idoneidade formativa, que é importante manter. Nós estamos a trabalhar ativamente e vamos solicitar uma reunião urgente ao bastonário da Ordem dos Médicos para elencar um conjunto de situações que já não se verificam, tal como aconteceu à data de novembro quando foi feita a visita de idoneidade formativa. E construirmos uma solução conjunta, porque consideramos que temos capacidade formativa para os dez internos que estão atualmente" no serviço de cirurgia geral do hospital.
Recorde-se que, na segunda-feira passada, Carlos Cortes fez duras críticas ao funcionamento da urgência de cirurgia geral do Amadora-Sintra, considerando que é desadequado e está a trabalhar "muito abaixo dos limites" de segurança clínica. O bastonário da Ordem dos Médicos pediu a intervenção da Tutela para garantir uma prestação de serviços adequada à população de meio milhão de habitantes de Amadora e Sintra.