Movimento cívico apresenta pedido de classificação do Edifício Jardim à Direção-Geral do Património Cultural para impedir destruição de 300 habitações.
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Um pedido de classificação do Edifício Jardim (vulgo Prédio Coutinho) em Viana do Castelo, como "Bem Imóvel de Interesse Público", enviado à Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), por um movimento cívico, que integra alguns moradores e figuras públicas, abriu uma nova frente de guerra contra a demolição daquela construção de 13 andares.
A juntar aos já inúmeros processos judiciais dos habitantes, surge agora uma candidatura que tem como objetivo impedir a operação programada há 18 anos. O primeiro subscritor é o arquiteto Fernando Maia Pinto, antigo diretor da Escola Superior Artística do Porto e do Museu do Douro, e com ele estão o jornalista Joaquim Letria, os antigos presidentes do CDS-PP Manuel Monteiro (professor universitário) e José Ribeiro e Castro (advogado), e o professor catedrático Jorge Ribeiro de Melo. Maia Pinto acredita que a classificação pode fazer cair por terra o projeto do programa Polis de demolir o imóvel por "razões estéticas".
"Não tenho ligações a Viana do Castelo, mas o que me liga à cidade é a brutalidade de ver destruir um património que já está edificado. Se calhar metade das casas ardidas em Pedrógão Grande equivalem ao número de habitações que vão ser destruídas [com a demolição do Prédio Coutinho]", argumenta o arquiteto, considerando que a população portuguesa se deveria mobilizar também em defesa da manutenção daquele edifício em Viana do Castelo. "Com Pedrógão houve um clamor público grande a exigir a reconstrução. Portugal tem um património habitacional decrépito e insuficiente. E no mesmo país, estar à rasca com falta de habitação e por outro lado assistir impávido à destruição de habitações em bom estado, é um bocado chocante. Vivemos num país muito pobre, para tanta riqueza", justifica, referindo que em 18 anos o processo da demolição implicou "custos estimados em cerca de 30 milhões de euros". O JN contactou o presidente da Câmara de Viana do Castelo, José Maria Costa, mas até à hora de fecho desta edição não foi possível obter uma reação.
Testemunho simbólico
Entre os principais argumentos da candidatura entregue à DGPC, consta "o interesse" do prédio como um "testemunho simbólico", que "permite realçar as contradições do processo de planeamento e gestão urbanística ao longo dos tempos", designadamente "na transição dos conceitos adotados pelo Estado Novo para os do pós-25 de Abril". Invoca "a qualidade construtiva e estética do edifício, que permitem valorizar a sua envolvente", e considera-o "um extraordinário exemplo da capacidade de adequação de um imóvel, tipologicamente oriundo e influenciado pelos conceitos dos anos 1960/70, à paisagem urbana de forte pendor histórico". Defende também que "não está demonstrado que a construção de um Mercado Municipal (no mesmo local), represente e salvaguarde o princípio da proporcionalidade entre uma operação de destruição de um património edificado plenamente apto para a utilização habitacional, face a um equipamento municipal descontextualizado no espaço urbano".