Companhia com sede em Vila Real baseia-se nos relatos de grupo de operários que se dedicou à arte de representar para abrir consciências.
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Estreia quinta-feira à noite em Vila Real a "A Peça (Em 4 Turnos)" da Peripécia Teatro. Uma nova produção que se inspira numa história real. A de um conjunto de operários têxteis do vale do Ave, que na década de 1970 fundou um grupo de teatro amador para abanar consciências e que deu origem à atual Associação Teatro Construção.
"A Peça (Em 4 Turnos)" é a segunda parte de um ciclo que a Peripécia Teatro iniciou em 2021 com a realização do documentário "Operário Amador", no qual foram entrevistados vários fundadores daquele grupo de trabalhadores. "Esta peça inspira-se nos relatos que ouvimos da boca deles", explica o ator e diretor artístico da companhia, Sérgio Agostinho.
Há, no entanto, uma boa dose de improviso e de brincadeira em palco, que não condiz com a narrativa dos operários, mas que, segundo o diretor, tem muitos pontos de contacto com as histórias contadas.
Para Sérgio Agostinho, esta produção é uma "oportunidade para homenagear o trabalho daqueles operários-atores", pois está convencido que se não fossem eles, "muito provavelmente ou quase de certeza", ele nunca teria a profissão que tem.
Por outro lado, "homenageia o teatro amador" a que aquele grupo dedicava os tempos livres com o objetivo de "abrir consciências e atuar em prol da conquista de uma vida melhor". Um trabalho que esteve na base da "formação de profissionais e de bom público".
A nova peça também presta tributo ao teatro como arte em si e às pessoas que se dedicam a ela. Sérgio Agostinho refere que é "uma forma de brincar ao teatro dentro do teatro", ao mesmo tempo que "faz o espetador rir e refletir sobre as dificuldades de o concretizar".
No ensaio a que o JN assistiu, o encenador, José Garcia, que diz ser mais um "espetador com voz ativa", dado que a peça foi criada pelos atores, disse que tem estado apenas a dar os retoques técnicos no espetáculo. "Há sempre pequenos ajustes para o adaptar ao espaço", porque mesmo que não seja muito percetível para quem assiste na plateia, há posições dos atores que são estudadas e adaptadas para que tudo resulte na perfeição. "Uma peça é evolutiva, tem de se lhe dar amor e colo, cuidar os ritmos e não perder as intensidades. É uma mecânica quase musical e com matemática", explica José Garcia.
O encenador não tem dúvidas que as pessoas "vão divertir-se", enquanto refletem sobre a importância dos grupos amadores de teatro nos anos de 1970, criados para falar de assuntos que a sociedade fechada não falava". Por outro lado, "é também um hino à amizade".
Morte de operário provoca protestos na fábrica
"A Peça (Em 4 Turnos)" decorre em Vale Saramagos, uma terra imaginária localizada num meio profundamente rural, transformado em centro de produção fabril, onde os padres e o catolicismo ainda dominam o pensamento geral. É nesse mundo que as personagens, Arantxa, Lurdinhas, Quim e Fonseca, criam um grupo de teatro amador. As suas vidas mudam quando Amaral, líder do grupo de operários, morre num acidente na fábrica. Arantxa rebela-se contra a atitude dos patrões e acaba por acusá-los da morte do colega, o que leva o grupo a entrar em rutura com os gestores, colocando em risco os próprios postos de trabalho.
Pormenores
Estreia em Vila Real
A produção "A Peça (Em 4 Turnos)" é apresentada pela companhia Peripécia, às 21.30 horas, nos dias 5 e 6 de maio, no Teatro de Vila Real. Os bilhetes custam cinco euros. É destinada a todos os públicos.
Digressão
A peça vai subir ao palco do Festival Mimarte, em Braga, no dia 08 de julho. A seguir, regressa a Vila Real para fazer parte do cartaz do Festival Lua Cheia, na aldeia Côedo, onde a Peripécia tem sede.