Marcas prestigiadas tomam conta do coração da cidade. Comerciantes alertam para o risco de possível descaracterização da Baixa do Porto.
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As marcas de luxo estão a tomar conta da Avenida dos Aliados, no Porto. Acompanhando os hotéis de gama alta, os apartamentos milionários e os cafés recheados de história, algumas das mais prestigiadas lojas nacionais e internacionais já têm lugar reservado. Outras estão ainda a caminho, mas as agências imobiliárias especializadas neste mercado asseguram que já há mais procura do que espaços disponíveis.
Quem percorre a avenida já não consegue ficar indiferente à mudança. As luzes cor de ouro dos hotéis iluminam as fachadas outrora cinzentas e abandonadas. O movimento cosmopolita voltou ao coração da cidade e as montras começam de novo a ganhar vida.
Para emoldurar edifícios da avenida são já quatro as marcas confirmadas. A Burberry, a Tod"s e a Boutique dos Relógios Plus irão integrar três das quatro lojas no Aliados 107, antigo edifício sede do jornal "O Comércio do Porto", no cruzamento com a Rua de Ceuta. A empresa David Rosas, referência nacional no segmento de luxo de joias e de relógios, ocupará o rés do chão no antigo edifício Casa Navarro, no entroncamento com a Rua do Almada.
Muito mais bonito
"É muito bom que a avenida esteja a ser reabilitada. Está tudo a ficar muito mais bonito e com diferente tipo de público", diz Francisco Sousa, proprietário da Casa Lima. E há mais projetos em carteira. No Aliados Plaza, o novo hotel que o grupo Barrias está a construir, também há lugar para uma loja deste segmento.
"Já fomos contactados por uma empresa de relojoaria que se mostrou interessada em vir para o nosso espaço", revelou ao JN Fernando Barrias, um dos responsáveis que vê com bons olhos a nova dinâmica. "As lojas chegam com anos de atraso. Vai ser ótimo até para os negócios que já aqui existem", acrescenta Fernando Barrias, sentado numa mesa do histórico café Majestic, também do grupo Barrias.
A mudança é visível, mas começou timidamente. Até agora, apenas a Fashion Clinic havia ocupado um espaço na Praça da Liberdade.
De acordo com Sandra Campos, diretora de retalho da Cushman & Wakefield, empresa global de serviços imobiliários comerciais, há interesse de retalhistas em ter uma montra nos Aliados. "Vão aparecer mais marcas de luxo nesta artéria", sublinha, acrescentando que o mercado de reabilitação na avenida potenciou o interesse das insígnias de gama alta, "que até agora não encontravam na cidade um destino para se instalar".
Atração e talento
O retalho de segmento elevado nesta zona central do Porto "que durante anos esteve moribunda" demonstra o valor da cidade, bem como "a sua capacidade de atração de talento qualificado", diz Ricardo Valente, vereador da Câmara do Porto com os pelouros da Economia, do Turismo e do Comércio.
A Tander Inversiones, que fez um investimento de 15,7 milhões de euros na compra das lojas no edifício Aliados 107, considera que o Porto tem "um mercado de retalho consolidado muito bom" e, em particular, acrescenta a investidora espanhola, "os Aliados têm potencial para atrair mais marcas de luxo, já que estão a aparecer vários hotéis de cinco estrelas e unidades residenciais de luxo".
Para Graça Ribeiro da Cunha, do departamento de retalho da imobiliária Predibisa, as marcas de luxo vão continuar a chegar, "mas será necessário haver mais oferta de espaços que as possam acolher".
Entre os comerciantes dos Aliados, as opiniões dividem-se: se, por um lado, as lojas de luxo vieram trazer de novo vida à avenida, por outro, podem estar a roubar a sua identidade.
É preciso cautela
Para Manuel Simões, proprietário da casa de jogos "Deus dá a Sorte", que fechou no final da semana passada porque o edifício será transformado num hotel, é preciso cautela: "Se não se tomarem medidas, a cidade vai ficar descaracterizada". "Os turistas procuram, também, a tradição que está a desaparecer para dar lugar às lojas e aos hotéis", acrescenta.
Por enquanto, ainda há quem resista às mudanças e continue a vender, com pouco luxo, lembranças para turistas.
Dados
40% mais barato o preço por metro quadrado
Na Avenida dos Aliados, o preço por m2 ainda se encontra sensivelmente 40% abaixo do que é praticado na Avenida da Liberdade em Lisboa.
Investidores nacionais
Segundo um estudo da imobiliária Avenue, em colaboração com a Predibisa, 84% dos investidores no Porto (nos mercados de comércio e de habitação) são nacionais.