Nuno Martinho, secrecário executivo da Comunidade Intermunicipal de Viseu Dão Lafões, é o responsável pela rede Mobi. Explicou ao JN como começou este processo e quais os objetivos e as dificuldades do transporte público no Interior do país.
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A Mobi Viseu Dão Lafões arranca esta terça-feira, 1 de julho, com 65 autocarros. No regresso às aulas, esta rede de transportes à escala regional vai movimentar 140 viaturas por dia, num esforço de promover a mobilidade sustentável numa zona de densidade reduzida.
O que levou à criação da rede Mobi Viseu Dão Lafões?
É importante lembrar que os municípios delegaram a competência de autoridade de transportes na Comunidade Intermunicipal e por isso, além das linhas intermunicipais que por força da lei já tínhamos, passámos a ser autoridade de transportes dentro de cada um dos municípios. Isso permitiu-nos ter ganhos de escala e também financeiros e temos aqui, no fundo, uma rede verdadeiramente regional de transporte público de passageiros.
Mas porque sentiram essa necessidade?
Desde 2015, 2016, que começámos a tratar a mobilidade à escala intermunicipal, porque entendemos que é um fator decisivo para a competitividade do território e, por sua vez, também para a coesão económica e social. Dentro dessa perspetiva, começamos logo a desenhar este edifício da mobilidade sobre três vetores fundamentais. Um é o transporte público de passageiros, a carreira pública, que agora entra em funcionamento. Outro, o transporte flexível com base no táxi; e, no domínio da mobilidade urbana sustentável, há um ano criámos um sistema de partilha de bicicletas. Como o nosso transporte público de passageiros está muito assente no transporte escolar, traçámos um plano intermunicipal para conhecer a mobilidade e os movimentos pendulares da nossa região. A partir daí começámos a desenhar uma rede, esta Mobi, que é o serviço público de transporte de passageiros.
E como vai funcionar essa rede? Com zonas ou toda a área da CIM é uma só zona?
Este novo serviço é uma mudança muito grande naquilo que estávamos habituados. Outrora tínhamos quatro empresas a operar e vamos passar a ter só uma, que foi aquela que ganhou o concurso público. Além disso vamos ter autocarros mais modernos, equipados com wi-fi, com sistemas de climatização e rastreados por GPS. Isto permite-nos dar alguma modernidade, porque temos como grande objetivo incrementar e promover a utilização cada vez maior do serviço público de transporte de passageiros. E com isto temos também uma grande novidade, que é o passe único, em que por apenas 20 euros as pessoas podem andar por toda a região.
Esse passe vai dar para viajar entre qualquer um dos 14 concelhos da CIM Viseu Dão Lafões?
Exatamente, pode ir da origem e ao destino num sítio qualquer. Dentro daquilo que é a rede Mobi, pode andar em todo o lado e em todos os autocarros. O que queremos é promover a coesão territorial e a mobilidade das pessoas entre a região. Antes tínhamos valores de passes muito superiores a 20 euros e que davam só para fazer determinados quilómetros entre a origem e o destino dentro do próprio concelho. Hoje, podemos andar em qualquer carreira dentro da rede.
De uma ponta a outra com o mesmo passe?
Sim. Promovendo também através do preço e de um serviço mais moderno, mais funcional, mais e melhor mobilidade, é que conseguimos de facto trazer pessoas para o serviço de transporte de passageiros. Porque se tivermos um mau serviço e, ainda por cima, a preços elevados, obviamente as pessoas continuam a querer utilizar o transporte individual.
E o transporte flexível como funciona?
É o nosso projeto "Ir e Vir". O autocarro não pode ir a todo lado, os preços são incomportáveis e, obviamente que pretendemos ter muitas ligações também entre a aldeia e a sede do concelho e ligações ao Intercidades ou à carreira aérea do aeródromo de Viseu. O transporte flexível, com base no táxi, permite-nos ter um serviço de mobilidade complementar com a carreira pública, que resolve muito daquilo que são os problemas da mobilidade na nossa região. As pessoas através do “Ir e Vir”, o serviço do táxi, pagam exatamente o mesmo que pagariam para os mesmos quilómetros numa carreira pública.
E as pessoas, nomeadamente as mais velhas, como vão ter acesso aos horários nessa era de Internet?
Temos o nosso site do Mobi Viseu Dão Lafões completamente atualizado com os horários e toda a informação para os utilizadores. A par disso, vamos ter, nos postos de venda que temos em cada um dos municípios da rede, em formato de papel, todos os horários de funcionamento da rede, a carreira, a origem, o destino. Vamos também ter um conjunto de informação ao público nos autocarros e nas paragens. Além de uma app associada ao site, que vai ter toda essa informação.
Quantas pessoas pensam transportar?
Tínhamos o sistema de mobilidade disperso por quatro operadores, muitos deles nem sequer tinham ainda sistema eletrónico de bilhética. Portanto tudo isso dificultava essa informação. Agora vamos ter toda essa situação integrada em tempo real e daqui a algum tempo é que vamos começar também a medir esta utilização.
Quais as expectativas?
Vamos ter uma rede a ligar todos os concelhos. Obviamente, é um caminho que se faz caminhando e vamos fazer alguns testes no sentido de equacionar e prever a procura para determinado origem, determinado destino. Um dos trabalhos que vamos iniciar também tem a ver com a nossa região, que tem um conjunto de zonas industriais dispersas por quarto ou cinco concelhos onde trabalham centenas de trabalhadores. Vamos ter um trabalho com essas empresas, os empresários e as associações de trabalhadores para fazer alguns testes de mobilidade, de movimentos, entre a origem o destino de pessoas que trabalham nestas zonas industriais.
É flexível então, ajustável o que está a ver neste momento?
Exatamente.
E vai ter também uma integração com os transportes urbanos de Viseu, o MUV?
Não. Neste momento não há integração com o MUV, que é uma rede dentro do município de Viseu, que também já delegou competências na Comunidade Intermunicipal para de futuro esta ser integrada na rede Mobi.
Quando será?
Neste momento há um contrato em vigor, mas a Comunidade Intermunicipal já está a tratar do caderno de encargos para lançar o concurso público para integrar o município de Viseu para a Rede Mobi.
Tiveram algum tipo de apoio neste investimento?
O que temos, e têm todas as autoridades de transportes do país, as duas áreas metropolitanas, Lisboa e Porto, e as restantes comunidades intermunicipais, é uma comparticipação do Estado, que é chamada a Iniciativa Mais TP, que dá um envelope financeiro a cada uma das autoridades de transportes. Mas, obviamente, esse valor é muito insuficiente em zonas de baixa densidade. Portanto, em mobilidade como na nossa região, temos um grande déficit tarifário, isto é, o custo da nossa operação deduzido da receita de bilhética e dos passes escolares. Este déficit é pago pelo conjunto dos 14 municípios.
Isso não é mais um custo da interioridade?
Claro, claro que é. Não podemos tratar de forma igual ou que é diferente, e nessa perspetiva também temos dado nota disto até à tutela várias vezes, nomeadamente as perspetivas de cálculo dos valores que são dados anualmente às autoridades de transportes.