Desde o início do mês, os militares da GNR fazem companhia à população mais vulnerável e isolada com o objetivo de alertar para os cuidados a ter com a saúde durante a época mais quente do ano. As visitas são acompanhadas de conselhos como beber água com frequência ou evitar a exposição solar nas horas de maior calor.
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Basta uma curta viagem de carro, a partir do centro de Penafiel, para que a paisagem urbana dê lugar à ruralidade. À medida que o carro da Guarda Nacional Republicana (GNR) avança, o asfalto é substituído pelo empedrado e os armazéns esfumam-se na vegetação. Ainda não são 11 horas e o termómetro já marca mais de 30 graus, com o sol forte a iluminar a casa de Rosa Fernandes.
O som do motor chama a atenção à mulher de 79 anos, que depressa aparece à porta, ao cimo das escadas, para cumprimentar os militares. “Bom dia, dona Rosa. Podemos subir? Hoje está quente para ficar cá fora”, observa o cabo Rodrigues. “Venham, a casa é velha, mas cabemos cá todos”, convida a anfitriã. A ventoinha está pousada no chão e refresca as pernas morenas de Rosa, servindo de deixa para os guardas explicarem o motivo da visita. Desde o início do mês que a GNR vai ao encontro da população mais vulnerável para levar conselhos sobre como lidar com o calor no verão, no âmbito de uma ação conjunta com a Direção-Geral da Saúde (DGS).
“Dona Rosa, tem de andar pela fresca. Não convém ir lá fora entre as 11 e as 17 horas”, alerta o cabo Freire. “Eu não ando! Eu fujo do calor. À tardinha sento-me nas escadas, que já lá dá sombra, mas agora de manhã é um calor que não se pode estar”, constata. “E aguinha, tem bebido?”, pergunta o cabo Rodrigues. “Ai água, ainda se fosse vinho...”, brinca Rosa. Depois de receber o panfleto com os cuidados a ter e de ouvir os alertas, é tempo de pôr a conversa em dia. Desde que os pais faleceram, há mais de 45 anos, Rosa Fernandes vive sozinha. “Nunca gostei de namoro, nunca gostei de homens”, justifica. Passa dias a fio sem falar com ninguém. Por isso, quando recebe a GNR, é uma alegria. “Até costumam vir três meninas. Eu gosto muito que eles venham para cá, gosto sim senhora”, revela.
200 idosos sinalizados
Embora a visita da manhã decorra ao abrigo do “Projeto de Promoção da Saúde” com a DGS, a GNR desenvolve o plano anual “Apoio 65 – Idosos em Segurança”, com encontros frequentes junto da comunidade mais isolada. Nos concelhos de Paredes e Penafiel, o Destacamento Territorial de Penafiel acompanha cerca de 200 idosos. “Está calor, mas as pessoas precisam de outro tipo de calor, um calor humano, de presença da Guarda. Ajuda não só a dar conselhos de segurança, como também a explicar os cuidados de saúde a ter neste período sazonal”, considera o capitão Luís Alves, comandante do destacamento.Ao fim de meia-hora, os três militares despedem-se de Rosa, que fica a acenar à porta até o carro desaparecer de vista. É hora de seguir viagem até outra freguesia.
Ana Barbosa recebe a GNR de braços abertos. “Só tenho pena que não venham mais vezes. Adoro, é uma segurança, uma companhia quanto estou sozinha. São simpáticos, são amorosos”, partilha a idosa, de 85 anos.Passou uns dias com os sobrinhos depois de ter sido operada à vista, mas já regressou a casa, onde vive apenas com a “velhinha” cadela Princesa. À sombra, relata à GNR a “aventura” das últimas semanas, antes de ouvir os alertas proferidos com carinho.Oito copos por dia“Convém beber, pelo menos, um litro e meio de água. São só oito copinhos por dia”, incentiva o cabo Freire. “Sou sincera, sou muito preguiçosa para beber”, confessa Ana, prometendo que vai fazer um esforço. “É preciso lembrá-los, dizer-lhes que bebemos um copo de água com eles, pedir que tenham atenção para não andar ao sol”, indica Luís Alves. Depois de uma despedida calorosa com beijos e abraços, o carro da GNR regressa ao posto.
Pelo caminho, pára a viatura junto a um campo agrícola, onde uma mulher corta a bandeira do milho. “Oh minha senhora, estamos na hora de maior calor. Não quer parar um bocadinho?”, sugere o capitão. Todo o cuidado nesta época do ano.