Câmara avança em breve com operação de requalificação da rua, garantindo que aparcamento será acautelado.
Corpo do artigo
É o ponto mais alto da cidade e o miradouro por excelência sobre o Porto. Mas poucos o conhecem ou por ali passam. O Monte do Tadeu, junto à Baixa, é procurado sobretudo para o estacionamento gratuito de quem trabalha no centro, onde os parcómetros custam 1,20 euros por hora. Os moradores deste ponto elevado, quase tudo casas térreas, queixam-se dos carros, do lixo, das áreas comuns pouco cuidadas. Dentro de semanas, a Câmara do Porto inicia uma intervenção nos arruamentos da zona.
É o programa Rua Direita lançado há dois anos e que promete requalificar 88 arruamentos "esquecidos". A Rua do Monte do Tadeu, que atravessa toda a elevação rochosa, entre as ruas da Alegria e da Póvoa, é uma delas. Fonte do Município explicou que "está prevista a requalificação de um troço da Rua do Monte do Tadeu" e que, "no âmbito desta operação, será certamente acautelada a questão do estacionamento, permitindo a partir daqui expandir a sua reorganização para as áreas envolventes".
Muito já foi feito
O espaço, caracterizado pelas suas casas térreas tipo ilha, precisa de mais intervenção. Mário de Sousa criou há anos a Associação de Moradores e recorda que muito foi feito e que o monte já não é o local degradado de outros tempos. A habitação em ruínas foi desaparecendo, como as ilhas do Padre, do Cão ou do Alecrim. Ficaram duas para contar história com as suas escada íngremes até ao reservatório de água no topo do monte. Em redor dos depósitos estão os destroços de uma antiga ilha. Por entre a vegetação e pedras soltas vislumbra-se aquilo que terá sido os alicerces das pequenas habitações.
Lurdes Soares, de 79 anos, vive na "primeira casa a contar do céu", ao cimo das escadas. "Agora que vedaram o acesso aos reservatórios isto está mais sossegado. Vinha para aí muita malta nova grafitar as paredes e fazer asneiras", conta. Lurdes nasceu no Marco de Canaveses mas vive no Porto desde tenra idade. "Isto era tudo em terra batida", conta.
Os encantos do Monte do Tadeu seduziram também o belga Hugues Kesteman que dá aulas de música de câmara na vizinha Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo. "Este local é fabuloso! Estou aqui há dez anos. Vivia em Famalicão e queria estar mais perto da escola. Andava à procura de um apartamento no Porto quando o meu filho me falou desta casa. Apaixonei-me logo", recorda Hugues, de 70 anos, "o pai do fagote", como é conhecido, e um dos fundadores da Orquestra do Porto, em 1989.
"Um porto à parte"
É certo que o Monte do Tadeu, que tem mesmo um marco geodésico na subida da Rua dos Congregados, "precisava de outra atenção pois é muitas vezes esquecido". Ao fundo da travessa as vistas a partir do muro chegam às Serras do Porto ou ao Monte da Virgem, em Gaia. Mas os olhos ficam também nos escombros de uma antiga fábrica de tintas, cuja rampa de acesso à Cooperativa dos Pedreiros é usada para a pastagem de cabras.
"É um Porto à parte. Aqui nem circulam autocarros. Não passam nas ruas estreitas", diz Mário de Sousa, junto ao Jardim do Monte do Tadeu que perdeu as flores e está em terra batida, repleto de dejetos de animais.
Congregados
A zona do Monte do Tadeu e Monte dos Congregados foi uma antiga quinta dos padres e frades da Congregação do Oratório de Regra em honra de S. Filipe de Néri que em 1680 se instalaram na Igreja dos Congregados, junto à Estação de S. Bento.
Reservatórios
No cimo do monte é visível o antigo reservatório que foi construído pela Compagnie Géneral des Eaux Pour l`Etranger, que foi a concessionária do abastecimento de água à cidade do Porto desde 1887 até 1927.
Alojamento local
O alojamento local já se faz sentir no Monte do Tadeu, mas de forma tímida. Há casas à venda e não faltam jovens casais a querer morar naquele lugar.