É preciso uma rede social de retaguarda, com apoio domiciliário e mais centros de convívio.
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Um estudo da Fundação Calouste Gulbenkian defende que "o melhor lugar para envelhecer é na própria casa", mas para o efeito é preciso criar uma rede social sólida que garanta retaguarda aos idosos, nomeadamente através da criação de centros de dia e de convívio descentralizados, universidades seniores espalhadas pelas localidades ou o reforço do apoio domiciliário. "Qualquer outra solução fora da habitação será sempre artificial", referiu António M. Fonseca, investigador e autor do estudo "Ageing in Place - Envelhecimento em casa e na sua comunidade, apresentado, ontem, em Bragança. "Os lares de idosos e outras estruturas residenciais têm que existir, mas o importante é as pessoas envelhecerem na casa delas e na comunidade onde pertencem", acrescentou o investigador.
O estudo editado pela Gulbenkian surge na sequência de um trabalho desta fundação que, desde 2016, analisa algumas modalidades práticas e estratégias concretas de promoção do envelhecimento na comunidade. "Um quarto da população portuguesa tem mais de 65 anos e temos, claramente, que optar por soluções de proteção dessa população que sejam do tipo comunitário", explicou António M. Fonseca.
A Gulbenkian tem vindo a apoiar vários trabalhos para atualizar o conceito de envelhecimento ativo. Um dos bons exemplos é o projeto das aldeias pedagógicas da Azimute, uma associação juvenil de Bragança, que aposta na utilização dos saberes dos mais velhos para recuperar tradições e para as passar às gerações mais novas. "É uma forma interessante de valorizar as pessoas mais velhas que vivem nas suas casas e de valorizar os seus saberes para a realização de práticas intergeracionais", observou António M. Fonseca.
Em seis aldeias dos concelhos de Bragança e de Vimioso, os idosos continuam a viver nas suas casas, mantendo as suas tarefas e saberes tradicionais, por isso são considerados mestres que têm ajudado a recuperar artes, como a confeção dos escrinhos de Vimioso (cestos) e participam em várias atividades com alunos de escolas de todo o país. Sempre que há visitas a essas aldeias são os idosos quem faz de cicerone levando as crianças a ver a capoeira, os burros ou como se trata da horta.
O projeto abrange mais de 150 idosos das aldeias de Portela, Pinela, Rio de Onor e Outeiro, em Bragança, e Vilar Seco e Vale de Frades, em Vimioso.
João Cameira, responsável da Azimute, diz que os benefícios de participar nas aldeias pedagógicas está validado por um estudo da Universidade Católica do Porto realizado na aldeia pedagógica de Portela. "A institucionalização dos idosos é atrasada, bem como o envelhecimento e também melhora a qualidade de vida dos participantes", afirmou o responsável.