Exposição marca a reabertura da Casa da Macieirinha. Rui Moreira anuncia "nova fase" na gestão e apresentação do acervo municipal.
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"Imanência Vegetal, Mineral e Animal no Espaço Doméstico Romântico" pretende redobrar o universalismo e o fulgor do antigo Museu do Romântico, agora designado Extensão do Romantismo do Museu da Cidade. A exposição, "de longa duração", como a baliza Nuno Faria, diretor artístico, deverá estar patente até maio de 2023.
"Foi no Porto que foi criado o primeiro museu público em Portugal, o Museu Municipal do Porto, inaugurado em 1848, e que teve origem no Museu Allen, criado por esse grande colecionador portuense [João Allen]. Queremos ser dignos desse legado", observou o presidente da Câmara Municipal do Porto, que apadrinhou a abertura da exposição, decorrida, ontem, na Casa da Macieirinha.
A herança de Allen a que se referiu Rui Moreira é a dos primórdios do romantismo nas margens do Douro, encenado no ambiente doméstico da alta burguesia portuense, com peças colhidas nas viagens pelo mundo ou com coleções de diversa ordem, como o Herbário Júlio Dinis. Toda esta memória foi, todavia, arrancada de raiz, quando foi instalado um novo modelo de Extensão do Romantismo, o que gerou muita polémica nos meios culturais da cidade, ao ponto de uma petição assinada por mais de quatro mil pessoas ter exigido a reposição do espólio antigo.
"Não somos alheios às polémicas. É bom que a cidade discuta e critique", verificou o presidente da Câmara do Porto que anunciou "uma nova fase, que terá como fulcro a apresentação sistemática do amplo e rico acervo municipal", também com a colaboração das diversas estações museológicas do concelho, designadamente do Museu Soares dos Reis.
Amostra e caos
Na evocação dos grandes mestres alemães do romantismo, o túnel da exposição acaba precisamente na sala do "kosmos", denominada com título da obra homónima ("Cosmos - Amostra e Caos") de Alexander von Humboldt (1769-1859). Pelo caleidoscópio deste grande vulto da ciência e da filosofia espelham-se todas as perspetivas e metamorfoses da época.
"É um dispositivo para recolher o mundo", afirma Nuno Faria, cicerone entre a diversidade morfológica da exposição, em objetos, plantas, pássaros, um crocodilo (!), casulos e borboletas, que são a própria patente da metamorfose. No apelo dos sentidos, ainda sobram espaço próprios para "momentos centrais da programação", como a evocação da artista portuense Aurélia de Souza e de Carlos Alberto, Rei da Sardenha, exilado no Porto, e que viveu e morreu na Casa da Macieirinha, a 28 de julho de 1849.