Verão trouxe enchente aos restaurantes da Mealhada e os emigrantes apareceram em força.
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A tormenta parece ter ficado para trás. Foram vários meses a funcionar só com takeaway ou com entregas ao domicílio e, nalguns casos, não compensou mesmo trabalhar durante os confinamentos. Mas, agora, os restaurantes de leitão da Bairrada estão a ter um verão repleto de clientes. Ao ponto de alguns já estimarem ter tido uma época melhor do que em 2019, quando ainda nem se sonhava com a pandemia.
"Os nossos restaurantes têm tido uma procura significativa, principalmente ao almoço. Ficamos contentes, porque passaram por um massacre", atesta Rui Marqueiro, presidente da Câmara da Mealhada, concelho com mais de 40 restaurantes, entre os quais pelo menos 12 especialistas em leitão.
Distribuição pelo país
A tendência é confirmada por Licínia Ferreira, proprietária do Rei dos Leitões. "Este verão foi muito melhor do que o de 2020 e, se calhar, até melhor do que o de 2019", adianta. Ali, nunca se parou de trabalhar. "Não baixámos os braços. Apostámos no "delivery" [entregas ao domicílio], comprámos duas viaturas e fizemos o país todo, da Quinta do Lago [no Algarve] a Melgaço", recorda Licínia. Após reabrirem portas, a criação de uma zona exterior de esplanada permitiu compensar a falta de lotação no interior. E a grande afluência voltou, com "muitos emigrantes".
No Pic-Nic dos Leitões, Sandra Alves, gerente, também sentiu a presença de muitos emigrantes. No seu caso, foram cinco meses - dois em 2020 e três em 2021 - sem trabalhar. "Recorremos ao lay-off, que foi uma ajuda essencial. Temos como prática matar e assar leitões todos os dias, com vigilância de uma veterinária. E fazer isso só por dois ou três leitões não valia a pena. Somos um negócio pequeno", sublinha. Mas como "desistir" também não faz parte do seu dicionário, o restaurante voltou em força e os clientes também. "Agosto foi um mês muito bom", confessa Sandra.
Filas de espera à porta como antes da pandemia
Por volta das 7 horas, todos os dias, os fornos a lenha do restaurante Nova Casa dos Leitões, em Anadia, na fronteira com a Mealhada, começam a crepitar. Molhos de vide e cascas de eucalipto são o combustível e longas línguas de fogo começam a sair pela porta dos fornos. São 20, no total, mas só são acendidos os que vão sendo necessários em cada dia. Em média, o restaurante assa entre 100 a 180 leitões por dia. Mas no seu matadouro próprio, industrial, no verão, época alta, chegam-se a fazer 1100 abates por dia. A retoma foi gradual, mas os números dos últimos meses voltaram a ser semelhantes ao que eram em 2019, antes da pandemia.
"A nível de abates, estamos perto dos números de 2019, porque fazemos muitos para fora. No restaurante, também está a correr bem. Este verão foi melhor do que o de 2020. Trabalhamos das 11 às 23 horas, sempre seguido", conta Lídia Sousa, sócia e gerente do restaurante, que foi fundado pelos seus pais, há 56 anos.
Ao fim de semana, em julho e em agosto, as filas ao almoço ultrapassam a uma hora de espera. Durante a semana é mais calmo, mas não têm faltado clientes. "Temos 180 lugares no interior, neste momento, mais 70 ou 80 na esplanada, que está dependente do bom tempo", conta Lídia, que gere 60 funcionários permanentes, mais cerca de 20 que só trabalham ao fim de semana.
"Lay-off" mas pouco
Ali, na Nova Casa dos Leitões, a pandemia fez mossa, mas não tanto como noutros estabelecimentos. "Estivemos abertos com takeaway e continuámos a fazer distribuição a outros restaurantes, fora da Bairrada. Além disso, temos o matadouro e fazemos vinho, por exemplo", explica Augusto Sousa, irmão de Lídia e também proprietário. A empresa acabou por recorrer "pouco" ao sistema de "lay-off", tendo colocado os trabalhadores a exercer outras funções durante o período mais crítico da pandemia, como a agricultura e as limpezas.