É José Barros de batismo, mas ficou conhecido como Puskas em pequeno, dado o jeito para jogar à bola. As fintas do destino levaram-no à pintura, mas continuou a usar a alcunha de criança. Em Monção, onde nasceu há 58 anos, quase todos o conhecem pelo nome do antigo goleador do Real Madrid.
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"Tinha cinco ou seis anos e, como era um dos miúdos que mais golos marcavam, era sempre eu quem escolhia as equipas", recorda Puskas. Foi mais tarde, já no Externato Liceal de Monção, que a jovem promessa futebolística repensou o seu futuro por causa de um padre que dava aulas de Português. "Nos intervalos, ele jogava à bola connosco e dava luta. O pior era quando entrava nas aulas: levava-me ao quadro e fazia-me as perguntas mais difíceis. Decidi nessa altura abandonar o futebol para fugir aos castigos", recorda, hoje, sem amargura.
De uma família de seis irmãos, foi o segundo filho que herdou o jeito do pai para a pintura. Ernesto Barros sofria influências artísticas do amigo Mário Garção, e chegou a inspirar-se nas cores do Barcelona para criar o emblema do Desportivo de Monção.
O pintor com nome de jogador da bola - e adepto ferrenho do Futebol Clube do Porto - ainda fez os exames escritos para ingressar na Escola Soares dos Reis, no Porto, mas nunca chegou às orais. "Sou um autodidata", afirma. Puskas estava, naquela altura, decidido a dedicar-se à pintura e, para se sustentar, decidiu trabalhar, primeiro como bancário. Durou um mês. Depois, vendeu produtos químicos. Dois anos.
"Vivi sempre para a arte. Sempre foi difícil. Antes do 25 de Abril, eu fazia parte de um grupo com tendências controversas e tinha mais o apoio da minha mãe do que do meu pai", recorda. Era um homem de Esquerda na altura e ainda é, mas sem cartão.
A primeira exposição de pintura, recorda, realizou-a em Valença. Uma experiência agridoce. "Vendi o meu primeiro quadro e ganhei quatro contos. Dei metade ao colega com o qual realizei o evento e com a minha parte fui a Vigo e comprei umas Levi's, uma gabardina e ainda sobrou dinheiro", conta. Sobrou o amargo: "O quadro que vendi chamava-se "O Sol", representava um negro em solidão. Custou-me ver a obra partir. Acho que deve ser o sentimento mais próximo que existe da mulher que perde um filho".
O pintor vive numa casa em Monção há 20 anos, próxima do rio Minho, cuja construção acompanhou a par e passo. E onde, desde então, instalou o seu estúdio. É lá que cria todas as suas obras que são conhecidas não só no Alto Minho, mas enfeitam também muitas paredes espanholas. Diz-se um artista "contemporâneo que prefere a província" e que gosta de retratar "o belo": mulheres, a liberdade, animais (cavalos e cães). Mas não só. Puskas é, também, autor de rótulos de vários vinhos consagrados da região, designadamente o Quinta do Vez, Matança da Veiga, Reguengos e da caixa que envolve o vinho Muralhas.
"Posso dizer com certo orgulho que praticamente todos os gabinetes dos autarcas do Alto Minho têm uma obra minha exposta".