Obra abriu “caixa de Pandora”: biblioteca do Porto cresce para antigo cemitério da cólera
Escavações arqueológicas no âmbito da ampliação da biblioteca pública do Porto revelaram campas improvisadas para as vítimas da epidemia de cólera que atingiu a cidade durante o Cerco das tropas liberais, entre 1832 e 1833.
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Aninhada numa das sepulturas já escavadas, Ana Paroleiro põe a descoberto, em gestos minuciosos e cuidados, o pequeníssimo esqueleto de um bebé que "deve ter morrido pouco depois do nascimento", em tempos de cólera no Porto da primeira metade do século XIX.
Os restos mortais do recém-nascido estiveram, até aos dias de hoje, enterrados nas traseiras da biblioteca pública, junto ao muro virado para a Rua do Visconde de Bóbeda, no sítio onde, em 1833, D. Pedro IV mandou fazer um dos primeiros cemitérios públicos da cidade - o do Prado do Repouso, aberto nas imediações em 1839, não foi o primeiro, como se julga -, para sepultar as vítimas da epidemia fatal que devastou ainda mais a cidade sitiada desde 1832 pelas tropas absolutistas fiéis a D. Miguel.