As obras para a criação de um centro de media artes no antigo cinema São Geraldo, em Braga, arrancam no final deste ano e deverão estar concluídas em 2027, num investimento na ordem dos 14,5 milhões de euros, disse esta segunda-feira o presidente da Câmara.
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Ricardo Rio adiantou que o concurso público para a realização da obra será lançado em julho e que o projeto engloba também o edifício do Pé Alado, onde se situa a sede da União de Freguesias de São José de São Lázaro e São João do Souto. Se tudo correr com normalidade, “as obras começarão no fim do ano e estarão prontas em 2027”, indicou o autarca, que disse que o programa do concurso está a ser ultimado.
“Ainda não tenho os valores definitivos, mas a última revisão apontava para os 14,5 milhões de euros”, salientou Ricardo Rio (PSD), em declarações aos jornalistas, no final da reunião de Câmara desta segunda-feira.
Antes, o vereador do PS Adolfo Macedo mostrou-se “chocado” com as declarações de Rio, numa entrevista recente à Rádio Universitária do Minho (RUM), na qual o presidente da autarquia disse que o contrato de arrendamento do São Geraldo à Igreja, desde 2017, representou um “custo político exagerado” devido às críticas que se sucederam pelo facto de o município ter pago uma renda mensal de 12.500 euros sem que o edifício tivesse qualquer uso.
“Senti-me tocado, já que fui um dos principais críticos, não da intervenção em si, mas da forma como se desenrolou”, disse Adolfo Macedo, conhecido pelo nome artístico de Luxúria Canibal, que foi uma das vozes contestatárias do projeto que estava pensado para ali. O vereador do PS salientou que as “foi sempre sobre o contrato que as críticas recaíram e sobretudo pelo tempo que passou”, o que fez a Câmara a “gastar demasiados fundos públicos para não acontecer nada”. “A haver erro político está aqui, na forma escolhida pelo senhor presidente para intervir”, afirmou.
Adolfo Macedo disse ainda que, com as declarações feitas, Ricardo Rio "paarece que está a desvalorizar as media artes”. “São assim tão pouco importantes? Se não fosse o São Geraldo onde as iam pôr? Afinal, o erro político é o quê?”, questionou.
“Custo político injustificado"
Na resposta, o presidente da Câmara, Ricardo Rio, confirmou que Adolfo Macedo “estava nos primeiros lugares dos potenciais alvos” das suas palavras e reiterou a ideia de ter assumido um “custo político” que agora entende que “não foi justificado”. O autarca garantiu que teria tomado uma decisão diferente e não teria travado o projeto que estava planeado para aquele espaço.
“O que disse [na entrevista] é que não teria ficado chocado se a reabilitação [do São Geraldo] fosse feita pelo privado tendo em conta o custo político que acarretou para o executivo municipal. O que não se pode fazer é defender uma solução e no momento seguinte vir criticar as consequências que ela acarreta”, disse Ricardo Rio.
O autarca assegurou que, quando o município tomou a decisão de arrendar o espaço, respondendo a um apelo da sociedade bracarense e impedindo a concretização de um projeto comercial privado, “não havia outra modalidade” disponível para o fazer, numa altura em que “nem sequer havia projeto” do que ali seria construído.
“Assumi um custo político que acho que não foi justificado atendendo às alternativas que tínhamos em cima da mesa”, reiterou Rio, defendendo que não o “chocaria nada” que a autarquia tivesse “deixado correr o projeto” que existia e tivesse feito o centro de media artes noutro sítio. "Obviamente que Braga sempre teria um centro de media artes, seria noutro espaço municipal ou privado, se não fosse no São Geraldo”, vincou o autarca.
Compra por 1,4 milhões
Em dezembro passado, o município aprovou a aquisição do antigo cinema e do edifício contíguo, o Pé Alado, por 1,4 milhões de euros. Na ocasião, Ricardo Rio disse que os dois edifícios tiveram uma “desvalorização brutal” depois de um relatório técnico ter detetado “diversas patologias estruturais”.
“Foi uma avaliação feita por peritos, não por favor, não há nenhum tipo de contrapartida escondida. A verdade é que hoje os edifícios valem muito menos do que estimamos que valeriam quando fizemos o contrato de arrendamento”, sublinhou, então, o autarca bracarense.
Em 2017, a Câmara de Braga decidiu arrendar o antigo cinema São Geraldo para impedir que se concretizasse a intenção de ali ser instalado um equipamento comercial privado, com mercado e hotel, que estava a gerar muita controvérsia na sociedade bracarense.
O valor total que ficou acordado entre as duas entidades (12.500 euros por mês) só começou a ser pago em fevereiro de 2019, sendo que até aí o município de Braga pagava, num primeiro momento, 50% da renda e, a seguir, passou a pagar 75%.