Muita gente ficou sem nada e tenta agora recomeçar do zero uma nova vida. Alguns nem apoios conseguiram obter.
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Mais de um mês depois da intempérie que assolou o Oeste, é ainda difícil quantificar, de forma exacta, o valor real dos prejuízos. Na restauração e hotelaria fala-se em 1,5 milhões de euros e na agricultora em mais de 3,4 milhões. Faltam as contas dos particulares.
"Não podemos baixar os braços". Esta é a frase mais ouvida por quem faz da terra e do turismo o sustento da família. Vidas inteiras de trabalho ficaram destruídas, algumas totalmente, por ventos que terão atingidos os 250 quilómetros por hora. A madrugada de 23 de Dezembro de 2009 dificilmente será esquecida por terras de Torres Vedras, Lourinhã, Cadaval, Bombarral e Peniche.
Humberto Luís agarra-se à esperança e recupera a custo a "vida" do hotel que abriu há 12 anos, na Praia Azul, a escassos quilómetros de Santa Cruz. O temporal levou o telhado do empreendimento de três estrelas, destruiu os estores, janelas e toldos, e a chuva danificou o paredes e mobiliários da maioria dos 32 apartamentos.
"Tenho mais de 300 mil euros de prejuízos" assegura o empresário que quer ter o hotel a funcionar a 100% por altura da Páscoa. Sem apoios estatais, Humberto Luís teve de meter mãos à obra e assegurar todas as despesas de reconstrução do espaço e o pagamento dos 12 funcionários que mantém ao longo de todo o ano.
"Os hotéis, restaurantes e discotecas também sofreram prejuízos avultados com o temporal e não tiveram apoios" frisa. O empresário garante que não está "contra" o apoio dados aos agricultores mas reclama para atitude idêntica para outros sectores.
"Os empresários não estão enquadrados" nos apoios e nesta época do ano têm "dificuldade em facturar", diz o presidente da Região de Turismo do Oeste, António Carneiro, adiantando que pediu ao secretário de Estado do Turismo que intercedesse junto do Turismo de Portugal para que seja criada uma "linha de financiamento para resolver o problema", mas ainda não obteve resposta.
Os prejuízos ascendem a cerca de três milhões de euros e afectaram especialmente o aparthotel Praia Azul, o hotel Golf Mar, Atlantic Golf, a Nau dos Corvos, uma discoteca e uma esplanada em Santa Cruz.
Manuel Francisco Gomes olha emocionado os três hectares de estufas ainda destruídos. Aos 57 anos, mais de 20 dedicados à agricultura, diz que começou agora do zero a sua vida.
"Se não tivesse de trabalhar já não reconstruía isto, mas tenho de continuar a ganhar o sustento da minha família" diz o agricultor que desde 23 de Dezembro deixou de vender as alfaces, tomates e pimentos no Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (MARL).
Não podemos parar
Com oito funcionários, Manuel Gomes teve de aguardar a avaliação dos prejuízos para se candidatar aos apoios do Ministério da Agricultura. Agora e enquanto não vem o dinheiro vai retirando os plásticos e paus de madeiras das estufas, para que possa rapidamente voltar a produzir. "Não podemos parar" diz, apesar de tudo confiante, acreditando que "com apoio" dentro de seis meses terá as estufas de pé.