ONG suíça diz que Vacas das Cordas "não é digna" de ser Património Cultural
A organização não governamental (ONG) "Fundação Franz Weber" defendeu, esta segunda-feira, que a Vacas das Cordas de Ponte de Lima "não é digna" de ser declarada Património Cultural Imaterial de Portugal.
Corpo do artigo
Trata-se de uma tradição que envolve "violência contra animais", defende a organização, que considera que "a presença de menores" naquele espetáculo realizado anualmente, na véspera do dia do Corpo de Deus, acaba por "normalizar os maus-tratos aos bovinos na localidade". A entidade tem apelado "às autoridades portuguesas para rejeitarem a proposta da Câmara Municipal de Ponte de Lima".
Recorde-se que a distinção foi proposta pela Câmara de Ponte de Lima e está em processo de finalização, sendo que o anúncio da consulta pública para efeitos de inscrição da manifestação “Vaca das Cordas” no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, foi publicado em Diário da República em 20 de fevereiro deste ano.
A Fundação Franz Weber, fundada em 1974, na Suíça, por um jornalista com o mesmo nome, e que tem estatuto consultivo junto de organismos como o Comité dos Direitos da Criança das Nações Unidas e a UNESCO, manifestou, em comunicado divulgado esta segunda-feira, "a sua firme rejeição da hipotética declaração" da Vaca das Cordas de Ponte de Lima como “Património Cultural Imaterial”.
"Esta proposta, que vem da Câmara Municipal, nem sequer é original. É a estratégia seguida pelo lobby tauromáquico em Portugal, Espanha e França, bem como em vários países americanos, para tentar manter artificialmente os acontecimentos violentos fora dos avanços sociais e legislativos que estão a ocorrer", declara a ONG, indicando "como primeiro argumento que a repetição de ações no mesmo sentido não constitui, por si só, uma necessidade de proteção institucional ou governamental”. Refere que "certas práticas de violência contra os animais eram proibidas pela legislação e podiam mesmo ser consideradas “tradição”, como bater nos animais ou afogá-los em sacos". E que "do ponto de vista internacional, Portugal ratificou a Convenção Internacional dos Direitos da Criança e foi objeto de alertas por parte do Comité dos Direitos da Criança, pelo que a proposta de Ponte de Lima procura legitimar a presença de crianças e adolescentes em eventos tauromáquicos".
"Assim, a FFW considera que a sua declaração também não é aceitável", sublinha a ONG suíça, assinalando que o “crescente desinteresse do público pelos espetáculos ou eventos tauromáquicos, que se consolida em cada estudo sociológico, põe em causa a própria sobrevivência da tauromaquia com uma declaração muito concreta para procurar o seu escudo jurídico contra propostas abolicionistas ou novas regulamentações".
"A isto junta-se a importante rejeição internacional, mesmo de territórios vizinhos como a Galiza, onde as touradas estão confinadas a um único município durante dois dias por ano", invoca, concluindo: “As tradições não justificam a proteção institucional, existem alertas internacionais e o carácter minoritário per se não implica a proteção da violência exercida sobre os animais como elemento patrimonial, a FFW solicita a recusa desta declaração de património.”