O calvário arrasta-se desde que em 2010 o Turismo Portugal comprou o edifício do Hotel à Câmara da Guarda, para abrir uma escola de hotelaria que nunca saiu do papel.
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Desde então que o edifício do final dos anos quarenta do século passado entrou em processo de degradação e abandono. Há, entre outras coisas, portas e janelas partidas, vidros no chão e peças de mobiliário irrecuperáveis que não passam de entulho. Sobra a estrutura de granito, consolidada durante os 12 anos de construção de 1938 a 1946. No exterior, a piscina está cheia de lixo e o terreno envolvente também não tem qualquer manutenção tal é a preponderância de ervas, mato e resíduos de plástico e outros materiais.
"É de meter dó", diz Alberto Videira, o antigo subdiretor que trabalhou na casa durante 42 anos e que pertenceu à leva do despedimento coletivo que há mais de 11 anos mandou 20 funcionários para o desemprego. "Era um corredor de políticos e de empresários de primeira água e chegou a ser considerado, a seguir ao Ritz, um dos melhores hotéis do país", recordou ainda Alberto Videira.
De fracasso em fracasso
À Transcontinental e à Predial das Termas que exploraram comercialmente a unidade hoteleira e, durante décadas, pagaram rendas ao município da Guarda, seguiu-se o propósito de o Estado requalificar o hotel, mas desistiu do projeto para o tentar vender depois. Como não apareceram propostas, o governo assinou em 2017, em ano de autárquicas, o chamado "memorando do Hotel" que, ao abrigo do Programa "Revive", recuperava tanto a ideia da escola de turismo como a concessão parcial do edifício para exploração hoteleira. No ano seguinte, duas empresas do Grupo Manuel Rodrigues Gouveia aceitava a concessão por 50 anos, mas sem sucesso porque, meses depois, entravam com um processo de insolvência judicial.
Prioritário para a nova Câmara
Já no final de julho último, à beira de novas eleições autárquicas, o Governo abriu novo concurso de concessão que termina no próximo dia 23 de novembro. Só depois dessa data se saberá se aparece alguém interessado em mudar a face do lendário hotel. Até lá podem candidatar-se pessoas individuais ou coletivas e até consórcios que podem visitar o imóvel e a apresentar propostas na plataforma eletrónica identificada no programa de concurso. Quem o fizer já sabe que além de remodelar o espaço tem de pagar ao Turismo de Portugal uma renda anual de pouco mais de 35 mil euros pela exploração de uma área de 11 mil m2.
Na tomada de posse, o novo presidente da Câmara da Guarda, Sérgio Costa, apontou como prioritária a "reabertura do hotel durante este mandato".
"Merece ser devolvido à região"
Com o concurso a decorrer, o presidente do Turismo do Centro quer acreditar que à terceira seja de vez. "A nossa vontade é que o empreendimento abra o mais brevemente possível", referiu ao JN Pedro Machado. "Sendo um edifício icónico situado num local privilegiado, merece ser devolvido à cidade", apontou, lamentando que as anteriores tentativas de venda e concessão não tivessem dado frutos. "Ainda mais agora que o turismo dá sinais de retoma, aumenta a preocupação e o desejo de reabrir o hotel", sublinhou.