Empresa de Santo Tirso que fabrica meias para a Puma e Primark encerrou no início deste mês e deixou cerca de 80 trabalhadores sem salários e subsídios de férias. Administração da Nuri alega não ter liquidez e aponta diminuição de encomendas.
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Para “reclamar os salários em atraso e os papéis para o fundo do desemprego”, cerca de 30 trabalhadores da fabricante de meias Nuri, em Santo Tirso, manifestaram-se, esta segunda-feira à tarde, à porta da empresa, cujo encerramento, no final da primeira semana de julho, apanhou de surpresa os perto de 80 operários, que tinham ido de férias no início do mês.
“Mandaram-nos de férias na sexta-feira, dia 7, e a fábrica fechou. Só nós apercebemos disso na segunda-feira [dia 10], quando recebemos um email a dizer que a fábrica ia fechar e que iam dar mais informações na sexta-feira que passou. Mas não disseram mais nada. Agora, o nosso receio é que retirem daqui as máquinas”, conta ao JN Ana Oliveira, que trabalha há 16 anos na Nuri, fabricante de meias para a marca Puma e para a Primark.
Fundada há três décadas em Santa Cristina do Couto, a empresa, que enfrenta dificuldades financeiras, ainda tentou um plano de recuperação, mas acabaria por declarar, em requerimento que juntou ao processo de insolvência, não ter condições para cumpri-lo: além de uma alegada “substantiva diminuição” de encomendas, a Nuri indicou ainda que “o pagamento [por parte de um cliente] não ocorreu, o que inviabiliza o pagamento tempestivo dos salários”.
“Subtraindo às expectativas de liquidez os montantes provenientes daquelas encomendas e não sendo os mesmos substituídos por quaisquer outros, resulta expectável que a requerente não consiga pagar as suas obrigações essenciais, com especial incidência para os salários e impostos”, justifica a empresa no referido documento.
“Dizem que não têm dinheiro para pagar. Temos um mês e meio de salário para receber, mais o subsídio de férias. E estávamos a receber o subsídio de Natal em duodécimos, porque em dezembro já não nos pagaram o subsídio. Agora, falta receber dois duodécimos”, aponta Ana Oliveira, que tem ainda a haver o montante correspondente aos 16 anos de trabalho na fábrica.
“Tivemos sempre encomendas, e não estávamos a contar que não pagassem o subsídio em dezembro. Só no início deste ano é que começamos a ter menos encomendas”, recorda a trabalhadora, sublinhando que a empresa “tem dívidas de 11 milhões de euros”, sendo um banco o maior credor.
Ao JN, Hernâni Gomes, que é advogado de cerca de 20 trabalhadores, fala numa série de “informações contraditórias” que foram sendo prestadas aos operários, por parte da Nuri, mas adianta, contudo, ter recebido esta tarde a garantia de que os funcionários “vão receber hoje as cartas para o fundo de desemprego”. O Fundo de Garantia Salarial será ativado, para que os funcionários possam receber os respetivos direitos.
“Os trabalhadores estavam a contar que a empresa pagasse o salário e o subsídio [de férias], e não pagou. Eles precisam do dinheiro para viver”, vinca Hernâni Gomes.
O JN contactou a Nuri, mas não obteve resposta em tempo útil.