Sem as alterações de fundo exigidas ao plano de viabilização da Flor do Campo, em Santo Tirso, o qual propunha o perdão de 85% de dívidas, entre salários e indemnizações, os operários vão votar contra o documento.
Corpo do artigo
"Subiu apenas 5%", indigna-se a sindicalista Palmira Peixoto, referindo-se à nova versão do programa de restruturação financeira da têxtil de S. Martinho do Campo, que propõe liquidar 20% das dívidas aos credores ao longo de 12 anos, em lugar dos 15% anunciados em Dezembro último.
A proposta, avançada pelo administrador judicial da empresa para evitar a falência, deverá ser votada amanhã, em assembleia de credores, mas será chumbada pelos cerca de 400 trabalhadores a quem a Flor do Campo deve ordenados e indemnizações - cerca de 10 milhões de euros, num total de 53 milhões de dívidas, estima o Sindicato Têxtil do Porto.
É que, para viabilizar a firma insolvente, há quase três anos parada e a navegar em dívidas, o gestor nomeado pelo tribunal "quer um perdão de 80%, em vez dos 85" propostos há um mês, explica Palmira Peixoto, daquela estrutura sindical, sublinhando que não houve alteração significativa. Propõe-se que cada trabalhador abdique dessa percentagem naquilo que a Flor do Campo lhe deve.
"É um escândalo", insurge-se Armandina Fernandes, a primeira a rescindir o contrato, em 2006, por falta de pagamento. Tem oito meses de salários pendurados, mais indemnizações. "É uma revolta tão grande, uma injustiça. Também gostava de fazer esta proposta ao senhor administrador, de pagar-lhe 20% durante 12 anos. De certeza que não concordava", sentencia a ex-funcionária.
"Sabe quanto ia receber, por mês, se pagassem os 15%? Dois euros", esclarece Armandina. "Isto admite-se? Nem para o pão dava. Se não tivesse ajuda, como ia sobreviver?". As interrogações alimentam a revolta de quem deixou na Flor do Campo 33 anos de vida, a cerca de um salário mínimo por mês, sem que a fábrica tenha devolvido o esforço. Em Abril de 2008, Jaime Toga, do PCP de Santo Tirso, cuja comissão concelhia dispõe de um sector têxtil, admitia, ao JN, que "a Flor do Campo é uma empresa que, ao longo de anos, não se modernizou". De novo a amargura da ex-operária: "Trabalhei muito, sabe? Fui para lá com 13 anos e comecei a descontar ainda não tinha 14". Armandina antevê futuro amargo: "fiz 49 anos. Tenho corrido tudo e não arranjo emprego. Gostava de saber o que o Governo vai fazer quando acabar o fundo de desemprego". E ele pode cessar "para o ano ou em 2011, se tiver direito à segunda volta", concluiu.