
Carris terá 35 milhões de euros para a aquisição de 98 novos autocarros
Foto: Reinaldo Rodrigues/Arquivo
O orçamento da Câmara de Lisboa para 2026 dá prioridade clara à mobilidade, às ciclovias e ao reforço da frota da Carris, num ano em que o município promete acelerar a transição energética e reorganizar a circulação na cidade. A proposta, apresentada esta terça-feira, totaliza 1345 milhões de euros e aumenta em mais de 18% a despesa face a 2025, com forte enfoque no investimento.
A Carris volta a ser peça central da estratégia municipal. O documento prevê 35 milhões de euros para a aquisição de 98 novos autocarros, inseridos no compromisso de ter uma frota com emissões zero até 2030. Paralelamente, será desenvolvido o Projeto Cidade Carris, que inclui um novo plano de rede e aposta na modernização tecnológica do operador de transportes.
Também a rede ciclável ganha novo impulso. O orçamento reserva cinco milhões de euros para novas ciclovias, ao mesmo tempo que prevê a expansão da GIRA (bicicletas partilhadas), a criação de uma nova aplicação e o reforço dos carregadores para bicicletas e veículos elétricos. A modernização da fiscalização e dos sistemas semafóricos soma mais dois milhões de euros.
Além dos investimentos internos, a Câmara destaca ainda dois projetos de mobilidade em corredor dedicado - o Metrobus Lisboa-Oeiras e o Elétrico 16 Lisboa-Loures - que pretende avançar em articulação com os concelhos vizinhos.
Arranque do segundo túnel de drenagem
Outro eixo de destaque é o Plano Geral de Drenagem, apresentado como a "obra invisível" que pretende preparar a cidade para eventos climáticos extremos. Em 2026 fica concluído o túnel Monsanto-Santa Apolónia, enquanto prossegue a construção do túnel Chelas-Beato, cuja cerimónia de arranque está marcada para esta quinta-feira, e que será essencial para aumentar a capacidade de escoamento e reduzir o impacto das cheias.
Com uma extensão de 1070 metros, este novo túnel, com 595 anéis e um diâmetro interno de 5,5 metros, irá realizar a captura da água recolhida entre Chelas e o Beato.
No espaço público, o município planeia investir 14,6 milhões de euros em pavimentações, modernizar a iluminação pública - com 75 mil pontos de luz alvo de manutenção - e avançar com a revisão do Plano Diretor Municipal. Higiene urbana, habitação, educação e segurança são igualmente áreas reforçadas: há mais cantoneiros e motoristas, 38 milhões para escolas, expansão de creches e instalação de 63 novas câmaras de videovigilância.
Entre prudência e críticas do PS
Com um saldo corrente positivo e sem novos empréstimos previstos, o executivo aponta 2026 como um ano de investimento "prudente", mas com foco em projetos estruturantes que pretende apresentar como marca do mandato.
Na apresentação oficial, o vice-presidente responsável pelas finanças, Gonçalo Reis, sublinhou o "efeito multiplicador" do investimento e a necessidade de rápidas decisões, para entrar em vigor já em janeiro.
Mas, logo após a tomada de posse do novo executivo, o Partido Socialista (PS), por meio da sua nova liderança local, deixou claro que "será difícil" viabilizar este orçamento sem garantias de execução e supervisão eficaz - especialmente nas áreas amplas de mobilidade, drenagem e habitação.
Para a vereação do PS, liderada pela socialista Alexandra Leitão, "apesar de o anúncio de apregoar 'mais despesa', este orçamento não responde às necessidades urgentes da cidade no setor da habitação", considerando que "reduz a capacidade de investimento público em casas municipais num momento em que milhares de famílias aguardam soluções dignas".
Já o Chega, pela voz do vereador Bruno Mascarenhas, citado pela Lusa, disse que "ainda é muito prematuro" tomar uma posição sobre a proposta de orçamento porque ainda tem de analisar melhor o documento, ressalvando que o seu partido não se condicionará pelo sentido de voto dos outros partidos.

