Guarda-rios fiscalizam o rio Tinto. Focos poluidores têm diminuído. Enguias e outros peixes regressaram, assim como toda uma fauna que há décadas estava desaparecida.
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São os guardiões de um rio que, ainda há bem poucos anos, era um verdadeiro esgoto. Quatro homens, todos os dias, percorrem as margens do rio Tinto. Fazem a vigilância para deteção de possíveis focos poluentes junto aos passadiços criados ao longo das margens, em Gondomar e no Porto, e que já envolvem toda uma população na sua preservação. Hoje, o rio tem peixes e recebe a visita de muitas outras espécies habituadas a cursos de água limpa.
"Este é o melhor emprego que me podiam dar. São momentos muito gratificantes. Percorremos as margens, vemos se está tudo em ordem e também fazemos limpeza. Às vezes são as pessoas que, ao fazerem caminhadas por aqui, nos alertam para as anomalias", explica Filipe Silva, que juntamente com os colegas José e Vítor têm a responsabilidade da vigilância das margens no Parque Oriental do Porto.
As descargas poluentes são atualmente muito menos regulares. Todos os dias, é feito um relatório através do tablet, ferramenta indispensável dos guarda-rios, para o caso de algo de grave acontecer. "Se for detetada anomalia é de imediato enviado um alerta para a Águas do Porto que coloca em campo um piquete em busca da fonte poluidora", explica o vigilante. São levantadas as tampas de saneamento e quase sempre o infrator acaba encontrado.
Filipe Silva tem 43 anos, reside em Gondomar e, tal como os colegas, faz a vigilância não só do rio Tinto, mas de todos os cursos de água na cidade. O primeiro guarda-rios entrou em funções em 2017. Fazem dois turnos, das sete às 20 horas. "Para além do rio Douro, este [Tinto] é o curso mais visível, por atravessar todo o Parque Oriental e por ainda há bem poucos anos ser o nosso maior passivo ambiental", refere Filipe Araújo, vereador da Inovação e Ambiente na Câmara do Porto, que chama a atenção para o facto da "despoluição do rio não ser só da responsabilidade do município portuense" e resultou de um trabalho conjunto com Gondomar.
Recorde-se que vários troços do rio foram entubados durante os mandatos na autarquia gondomarense de Valentim Loureiro e foi o atual presidente, Marco Martins, um dos grandes impulsionadores da construção do intercetor com 4100 metros, que liga as estações de tratamento das águas residuais (ETAR) do Meiral, em Gondomar, e do Freixo, no Porto. Os efluentes tratados, em vez de serem lançados num pequeno curso de água, são agora lançados e absorvidos pelo Douro e, desde que a obra foi inaugurada, em julho de 2019, "são muitos positivos".
Troço na Lipor
A montante, no trilho ecológico da Lipor, em Baguim do Monte (Gondomar), o cenário também é "bastante animador", sendo habitual o visionamento de peixes, enguias, garças, galinhas-de-água, beija-flores, sapos-parteiros e guarda-rios. A empresa que tem o Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto desenvolveu um Programa de Monitorização para Avaliação da Qualidade da Água e dos Sedimentos do rio Tinto e tem, desde 2015, um funcionário com as funções de guarda-rios.
Trata-se de Luís Ramos, de 47 anos, residente em Ermesinde (Valongo). "Quando surgiu a oportunidade de fazer isto, agarrei-a logo! Sempre gostei da natureza, embora este seja um trabalho solitário, ainda mais agora que devido à pandemia estamos sem visitas", conta o guarda-rios.
O percurso é feito ao longo de 250 metros, entre as instalações da Lipor e a ponte da Palmilheira, na fronteira com o concelho da Maia. "Observo a tonalidade da água, a cor e o cheiro e se há alguma alteração", explica. "Desde que fazemos a monitorização da qualidade da água que os parâmetros registados têm vindo a apresentar cada vez um menor nível de poluição e não é por acaso que hoje o rio Tinto é um rio vivo!", diz Diana Nicolau, responsável pelo Departamento de Educação da Lipor. Para que seja possível fazer todo o percurso, de Ermesinde/Baguim até ao Freixo, é preciso ligar os cerca de 200 metros que faltam de passadiço, existindo vontade da autarquia de Gondomar para avançar com o projeto.
APA aplica coimas
Normalmente, o responsável pela infração é sensibilizado e até ajudado no tratamento dos resíduos. Cabe à Agência Portuguesa do Ambiente (APA), nos casos mais graves (reincidentes), aplicar coimas.
Número médio de autos por ano
De acordo com a Câmara do Porto, as infrações detetadas atualmente são muito menos e resultam, em média, em 10 autos por ano.