O padre de Paderne, em Melgaço, que na última semana foi alvo de polémica por se ter recusado, nos funerais, a acompanhar os mortos desde a casa mortuária até à igreja, afirma que irá passar a fazê-lo para que se restabeleça a paz na freguesia.
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A população da paróquia à frente da qual o sacerdote José Alberto Sousa, de 75 anos, se encontra há 35 anos pediu, na última semana, a sua substituição e, no sábado, o prior foi visitado pelo vigário geral da diocese de Viana do Castelo. Fruto dessa visita, ou não, assume agora que passará a deslocar-se à nova morgue da aldeia, estreada há pouco mais de uma semana, sempre que haja um funeral para realizar.
“Não é que seja obrigado, mas para fazer a vontade e para evitar problemas vou passar se calhar a ir lá fazer o levantamento dos corpos”, declarou, referindo que o objectivo é “restabelecer a paz” na paróquia. “Isto foi um mal entendido da parte deles, porque normalmente quem fala mais e quem protesta mais são aqueles que não têm fé, que não tem vida cristã, que não praticam e não conhecem as normas”, disse ainda referindo-se aos que pediram a sua expulsão da freguesia e que, no seu entender, desconhecem o ‘Ritual Romano da Celebração das Exéquias’ que prevê três esquemas para funerais e nenhum dos quais obriga o padre acompanhar o corpo velado desde a capela mortuária à igreja.
“Não fiz nada mal para merecer um castigo desses. Expulsar um padre de uma paróquia é uma coisa grave. Sou padre há 52 anos, estou aqui há 35 e nunca houve nada de especial”, referiu, garantindo: “Estou de consciência tranquila”. E acrescentou: “Penso que não há divisões na freguesia. Há-de haver pessoas que não gostam de mim, mas não viu o que aconteceu a Jesus, que antes de ir para o Calvário bateram-lhe palmas e dali a alguns dias estavam a pedir a morte dele? Nâo vê no futebol um treinador que no ano passado fez maravilhas e agora está a ter resultados maus, que já passa de bestial a besta?”. Em clima de paz, celebrou-se, anteontem, uma missa de sétimo dia relativa a um dos defuntos que o prior não acompanhou como a população esperava, o que no dia do funeral redundou numa explosão de emoções dentro da igreja com insultos à mistura contra o padre.
Na sequência desse incidente, numa reunião popular, na quarta-feira, as gentes da aldeia tinham decidido lançar um abaixo-assinado para pedir ao bispo a substituição do pároco. Sábado, as autoridades eclesiásticas procuraram apaziguar os ânimos. “O senhor vigário geral veio-me aconselhar à reconciliação, mas a minha reconciliação está feita”, concluiu o padre Sousa.