O povo das paróquias de Aboim, Pedraído, Felgueiras, Gontim e Revelhe, em Fafe, manteve, no domingo, a intenção de boicotar as eucaristias, concelebradas pelo bispo auxiliar e o padre Manuel Torre, como forma de protesto pela anunciada dispensa do pároco.
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Em troca, receberam a promessa do regresso do responsável das paróquias, sobre o qual há denúncias de consumo de álcool em excesso e relacionamento amoroso com mulheres.
No passado dia 13, a arquidiocese de Braga emitiu um comunicado no qual anunciava a "dispensa da paroquialidade das comunidades que lhe foram confiadas". Afinal, houve uma reviravolta e o padre continuará, mas primeiro terá de ser alvo de um tratamento psiquiátrico, no final de agosto.
No domingo, cabia a D. Nuno Almeida, bispo auxiliar de Braga, concelebrar com o padre Manuel as eucaristias naquelas comunidades. Em Aboim, o povo prometeu e cumpriu. Poucos minutos antes das oito horas chegava à igreja o bispo com o padre Manuel, mas o povo interpelou-os.
"Ou o padre continua ou fechamos"
"Ou o padre continua sozinho ou fechamos as portas das igrejas", ameaçavam. D. Nuno tentou explicar e anunciou a leitura de uma carta do padre Manuel Torre durante a missa. Dada a intransigência da população em entrar no templo, o pároco leu-a no adro. "Ao mesmo tempo que me fui enamorando pelas minhas paróquias e amando cada paroquiano com todo o meu ser, foi diminuindo a minha saúde. Em algum momento pedi para sair, todavia, alertaram-me para esta situação e aconselharam-me a tratar da saúde", leu o padre Manuel.
"A perspetiva de ter de interromper o trabalho pastoral abalou-me, revoltou-me e senti-me julgado injustamente em notícias e conversas não condizentes com a verdade", confessou na missiva, aprovada pelo arcebispo. Confirmou, depois, que em setembro vai interromper o trabalho pastoral "não por muito tempo" para se restabelecer, utilizando a palavra "suspenso" para definir a situação em que vai ficar.
Não foi coagido
D. Nuno Almeida, confrontado pelo povo à porta das quatro igrejas, afiançou que o sacerdote Manuel Torre não foi coagido a escrever a carta e fê-lo com "toda a liberdade", assumindo em público que "se o padre Manuel se sentir em condições, voltará porque, tendo saúde, é o vosso pároco pelos anos que forem precisos".
O JN sabe que o padre deverá ser alvo de um tratamento psiquiátrico e que vai ficar em retiro espiritual no convento de Balsamão, em Macedo de Cavaleiros, com a Congregação dos Marianos da Imaculada Conceição, e com a possibilidade de sair apenas uma vez por semana para visitar a família.
O povo da zona norte do concelho de Fafe está disposto a esperar o tempo que for preciso pelo regresso do padre.
Desgaste emocional
Ao JN, o padre Manuel Torre tinha tecido duras críticas ao arcipreste de Fafe, José António Carneiro. Ontem, pediu desculpa, justificando-se com um "desgaste emocional atroz".
Vai "tirar o diabo"
Antes de sair, em setembro, o padre Manuel Torre vai ainda ser o responsável pela festa da Senhora das Neves, onde milhares de fiéis aproveitam para "tirar o diabo" do corpo.