Visita pascal não era celebrada no Alentejo. Sacerdote elogia a adesão e espera inspirar outras paróquias.
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Há quatro anos que o compasso pascal entrou pela primeira vez na casa de Teresa Marques e de mais de uma centena de famílias alentejanas. "Já conhecia a tradição através da minha sobrinha, que vive no Porto. Gostava muito de passar a Páscoa com ela, mas tinha pena de não haver visita pascal em Mora, onde nasci e vivo há 70 anos", conta.
A tradição secular do Norte acabaria por chegar à vila alentejana em 2018, através do padre Nelson Fernandes, natural de Braga e ali sacerdote desde 2017. O pároco elogia a adesão e espera inspirar outras paróquias.
Depois de dois anos de interregno por causa da covid-19, o compasso regressa nas próximas semanas a Mora, Pavia, Cabeção e Malarranha. Desde que as localidades alentejanas conheceram a visita pascal, esta tem ganhado mais adeptos, mas primeiro foi preciso "conquistar". "Entrar em casa é um grande passo aqui, porque o povo alentejano é muito acolhedor, mas para lhe entrarmos na intimidade é preciso conquistar o coração", confessa Nelson Fernandes.
Desde então, diz que os alentejanos têm aderido "com muito entusiasmo". "Nunca disse como se celebrava, apenas que era um momento de oração e que íamos a casa com o crucifixo. Nunca falei de mesas com comida e tapetes às portas, mas para minha grande surpresa encontrei precisamente isso porque as pessoas foram à Internet pesquisar sobre a visita pascal", recorda. Teresa Marques, moradora em Mora, diz que "é um momento muito especial". "Não tínhamos nada disto. Sinto que as pessoas estão diferentes e mais envolvidas na religião. Sentimos mais alegria".
Visitas até maio
No resto do país a visita pascal acontece hoje, Domingo de Páscoa, mas também na data o pároco minhoto foi inovador. "Muitos pensam que a Páscoa acaba no domingo, mas não, são 50 dias. Decidi fazer cinco visitas nos restantes domingos, até meados de maio, para mostrar que ainda estamos em tempo pascal. Ao fazer um domingo em cada paróquia também é uma forma de conseguir estar presente em todas", diz, esclarecendo que "normalmente não é possível o padre estar em todas".
Mais do que a bênção das casas e o tradicional beijo na cruz, que este ano ainda não se realiza por causa da covid-19, o sacerdote lembra a importância de entrar em casa de quem está só. "Para muitos é um momento de colmatar a solidão. Nestas visitas é que compreendo a quantidade de idosos que vivem sós", partilha. Não perder uma tradição, que é "forte" no Norte e Centro, mas tem vindo a desaparecer no resto do país, é outro dos objetivos. "Nas Beiras havia e já não há. No Sul e em grande parte de Lisboa, não conheço quem faça".
O jovem padre, 30 anos, espera agora que a tradição chegue a outras zonas onde não se celebra. "Quando propus aos meus colegas padres, disseram-me que as pessoas aqui vivem de forma diferente, mas acabou por resultar muito bem. Deixo o desafio a outras paróquias".
Tradições
Em Mora não havia visitas pascais, mas realizava-se a Procissão dos Passos, mais popular no Sul que no Norte. A vila de Mora vai receber o compasso dois dias porque tem mais população que as restantes localidades.
20 pessoas nas visitas pascais
Entre acólitos e membros do grupo de jovens, são 20 as pessoas que acompanham o padre Nelson Fernandes nas visitas pascais por quatro localidades do município de Mora nos dias 24 e 25 de abril, 1, 8 e 15 de maio.