Um pedaço de papel assinado pelo padre Luís Baeta, distribuído nos últimos dias na freguesia de Quinchães, Fafe, no qual pede o pagamento da contribuição paroquial, está a gerar polémica.
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O pároco alude à "situação especial que estamos a viver - proliferação mundial do coronavírus" para anunciar que "pessoas conhecidas e de confiança passarão pela sua casa na altura da Semana Santa a fim de levantar a sua oferta no envelope". A justificação, segundo o documento, foca-se nos rendimentos pessoais do sacerdote: "(...) para que eu possa ter um salário todos os meses e respetivos subsídios de férias e de Natal".
Numa altura em que muitos habitantes da freguesia estão fechados em casa preocupados com o futuro, desde logo económico, a mensagem foi alvo de duras críticas. O pároco, de 35 anos, caiu na tentação de responder a muitas delas no Facebook, mas horas mais tarde viria a apagar as publicações. Ao JN, o padre Luís Baeta explicou que os mil bilhetes espalhados pela freguesia surgiram após uma reunião do Conselho Económico da Paróquia para dar resposta a duas situações. "Era um período em que muita gente acreditava que a quarentena seria de apenas 15 dias e estávamos a receber as notícias de que não iria haver missas, compassos, etc. Claro que, com a tristeza que isso nos estava a causar, estávamos a arranjar uma solução para levar os postais de Páscoa às pessoas", disse. O pároco sustentou a ideia como uma forma de arranjar solução às pessoas de Quinchães que "se questionavam como dar o envelope (com dinheiro) se não havia compasso, missas e confissões".
Não estão habituadas
Pároco noutras duas freguesias do concelho, Silvares São Martinho e Seidões, o sacerdote diz que "o papel só foi polémico porque as pessoas não estão habituadas e muitos envelopes dos tradicionais direitos paroquiais (côngrua) já tinham sido distribuídos em Seidões e Silvares. Em Quinchães, a recolha decorre à passagem do compasso pascal que este ano não haverá, infelizmente".
Luís Baeta está ciente da dimensão que o surto do Covid-19 ganhou e assume já ter percebido que "foi uma tentativa que não vai resultar e quando estiverem todos conscientes de que a quarentena será obrigatória as pessoas não sairão de casa, nem eu saio, e quando puder ser feito será".
Sobre o impacto que os bilhetes estão a ter na freguesia, o pároco de Quinchães acredita que "a parte que reagiu menos bem foi aquela dos que não querem nada com isto. Há muitos praticantes que compreenderam e farão a oferta", disse, lamentando que na Páscoa, "em Quinchães, são normalmente distribuídos mil envelopes e devolvidos, mais ou menos, entre 400 e 500". Já depois do contacto do JN, Luís Baeta fez uma publicação no Facebook a justificar este caso e terminou garantindo que "quando quis ser padre saberia que não seria fácil viver de esmolas" : "Também procuro sempre viver sem mostrar luxos. Os meus bens estão ao serviço de todos", acrescentou.
Outros casos
Famalicão
No ano passado, os fiéis de Delães, Famalicão, revoltaram-se com o facto de o novo padre ter exigido a côngrua através do boletim paroquial. Caso contrário, ficariam excluídos dos serviços da paróquia.
Mangualde
Em Freixiosa, Mangualde, o padre recusou fazer o funeral a um habitante por uma dívida de 375 euros (côngrua), em 2015. E foi o cangalheiro que rezou o pai-nosso.
Lamego
Quem não pagar ao padre tem de procurar outro. Foi nessa tom ameaçador que os paroquianos, em 2005, receberam uma carta do padre de Lazarim e Lalim.
Perguntas e respostas
O que é a côngrua ou o contributo paroquial?
Trata-se de uma contribuição anual dos paroquianos para as despesas da sua paróquia. De acordo com a Igreja, "não é esmola, é uma das formas concretas de participação dos fiéis nas necessidades da vida e missão da Igreja, para o bem de todos".
Há alguém que esteja isento do seu pagamento?
Ainda segundo os cânones da Igreja, estão isentos apenas os não-católicos.
A que se destina a verba da côngrua?
Destina-se especificamente a prover as necessidades correntes, ficando as extraordinárias (como obras de maior dimensão), ligadas a iniciativas de angariação. Destina-se, de modo geral, ao sustento do sacerdote, salários e encargos sociais dos funcionários, gastos com o culto, caridade, serviços (expediente, correio e telefone), entre outros.
Quanto é que se paga?
A Igreja explica que cada um contribui "de acordo com a sua consciência e possibilidades. Só Deus conhece bem o valor real de cada oferta".
Qual a periodicidade deste pagamento à Igreja?
O pagamento faz-se uma vez por ano. Há quem peça no final do ano, outros pela Páscoa.
A contribuição é dedutível?
Sim. Sempre que contribuir será passado um recibo, que, desde que tenha o seu número de contribuinte, poderá deduzir no IRS.