"Isto vai ser mais difícil do que estávamos à espera. São padres, mas jogam muito bem", comentava-se no banco de suplentes dos alunos da Escola Secundária de Murça, pouco depois do apito inicial do jogo de futsal, frente aos padres da diocese de Vila Real, campeões nacionais de futsal.
Corpo do artigo
Os sacerdotes aproveitam o talento com a bola para irem às escolas, onde trocam a batina pelo equipamento desportivo, e mostram que ser padre é muito mais do que celebrar missas. "Esta é uma forma de mostrar que somos de carne e osso e que também somos jovens, gostamos de conviver e de jogar futebol como eles", revela Ivo Coelho, 35 anos, pároco em várias aldeias de Valpaços.
10632097
A reação dos alunos tem surpreendido os padres. "Ficam entusiasmados porque nos querem ganhar, mas também se mostram curiosos por saber como conciliamos tudo e por verem que somos iguais a qualquer outra pessoa", adianta Ricardo Machado, 36 anos, padre em várias paróquias de Alijó e de Murça.
A iniciativa, denominada "Passa a bola, passa o amor", pretende desmistificar o sacerdócio e aproximar a Igreja dos jovens. Rodrigo Fernandes, aluno do 12.º ano, nunca pensou defrontar padres. "Achava que eles só se dedicavam à religião e que não faziam mais nada, mas pelos vistos era uma ideia errada. A partir de agora, já vou olhar com outros olhos para a Igreja", admite o jovem.
Dar a volta ao resultado
Ao intervalo, os padres ganhavam por 3-1, mas Diogo Esteves, aluno do 11.º ano, acreditava que era possível dar a volta ao resultado. "Nunca pensei que eles jogassem assim tão bem. Têm boa tática, sabem posicionar-se e trocam bem a bola", elogiou o jovem, que acabou o jogo com "uma ideia muito diferente da que tinha sobre os padres".
Além de mostrar o lado mais social da sua vida, os sacerdotes aproveitam para chamar os mais novos à Igreja e, porventura, despertar vocações. "É uma realidade de que os jovens andam afastados da religião. Existem ideias preconcebidas que os levam a negar à partida tudo o que está relacionado com a Igreja. Pensam que ser padre não é fixe e que não temos vida própria", diz Ricardo Machado.
No final, o jogo foi ganho pelos sacerdotes por 5-3. O padre André Meireles, 28 anos, o mais novo da diocese de Vila Real, repetiu o feito alcançado na final do Europeu de Futsal do Clero, ao marcar três golos. "Vivemos no futebol a alegria da fé, que é algo que não se restringe ao altar, à celebração e aos sacramentos. Esta é a prova de que a Igreja é jovem e é alegre", rematou o sacerdote.