Pode um deles ter sido português e o outro guardar as chaves do Céu, mas João Batista é o mais popular dos três santos que animam esta terra à entrada do Verão. Basta verificar que o dia 24 de junho é feriado em 34 concelhos, mais um do que o somatório dos municípios que param a 13 e a 29. E mais popular do que no Porto nem pensar, pois foi o povo que decidiu, tendo como mediador o JN, que o dia a seguir à noitada não é para trabalhar.
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Nunca é excessivo repetir a história, que entronca, obviamente, nas fundas raízes que fizeram desta a maior das festas, mesmo que não tivesse, em tempos medievos e modernos, a importância mística e terrena do Corpo de Deus, a mais importante solenidade do burgo.
Sabe-se que vêm de longe as festas sanjoaninas e os seus aspetos mais característicos. As oferendas vegetais são interpretadas, por alguns, como reminiscências dos cultos semitas de Tamuz ou Adónis, as fogueiras surgem associadas ao ritual solsticial de cultos solares ou a práticas purificadoras. Quanto à relação entre o santo e o Porto, é em Fernão Lopes que está a primeira pista conhecida, pois o cronista coloca no reinado de D. Fernando (século XIV) a realização, na cidade, de grandes folguedos na noite e dia de S. João.
Claramente, estamos perante um de muitos casos em que a Igreja se apropriou do paganismo, absorvendo estas festividades solsticiais com a dedicação a santos. Foi o Baptista, portanto, que ganhou terreno no Porto e em mais 33 municípios portugueses (ver infografia).
Os feriados municipais, recorde-se, surgiram com a República, e o papel do JN na escolha portuense seguiu-se a algum impasse que havia na vereação, até ao momento em que foi decidido dar a voz ao povo. Ao anunciar os resultados, em Janeiro de 1911, escreveu o nosso jornal: "Ganhou a pândega com 6565 votos; o trabalho [1 de maio] teve 3076 votos; a fé [8 de dezembro] ficou-se pelos 1975 votos".