Recém-nascido morreu após falta de assistência médica. Hospital admite que Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) estava parada e abre investigação. Pais levam caso a tribunal.
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No espaço de um ano é a segunda vez que Osvaldo Rafael, de 34 anos, e a mulher Ana Rita Mendes, de 23, residentes em Alagoa, em Portalegre, vivem a perda de filhos. O primeiro morreu durante a gravidez. Na quinta-feira, cerca das 10.30, Gabriel Francisco, com oito dias morreu, depois de dar entrada no hospital de Portalegre em estado crítico, levado pelos bombeiros locais, dado que a Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) estava parada por falta de médico.
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A diretora clínica da Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano, Vera Escoto, que integra o hospital de Portalegre, admitiu ontem que a VMER esteve cerca de sete horas inoperacional por falta de médico (entre as 9 e as 15.40 horas), embora tenham sido feitos "todos os esforços" naquele dia para a colocar operacional. Também referiu que no Serviço de Urgência, foram feitas "manobras de ressuscitação", com vários profissionais de saúde envolvidos para tentar salvar Gabriel. Não resultou.
Caso em tribunal
Agora, será aberto um inquérito para investigar o caso, baseado no resultado da autópsia. E é o que resta a Osvaldo e a Ana Rita, ambos desempregados. "Concordo com a investigação. Vamos para tribunal", disse, ontem, ao JN, o pai do bebé.
O que se passou sai da sua boca com esforço."O nosso bebé acordou pelas 9 horas. Nessa altura, estava tudo bem. No dia anterior tinha ido ao pediatra, no Centro de Saúde de Portalegre, e ele disse que estava bem de saúde. Pelas 9.30 horas a minha mulher chamou-me porque o Gabriel estava com dificuldade em respirar".
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Osvaldo ligou para o 112. "O meu menino estava a ficar roxo". Enquanto esperava pela ambulância seguiu as instruções dadas pelo telefone pelo enfermeiro que atendeu. "A ambulância dos bombeiros chegou cerca de 10 a 15 minutos depois. O meu menino estava pálido. Os bombeiros disseram-nos que tinham que levar rapidamente o Gabriel para o hospital, já que a VMER não estava disponível", frisou.
"Não nos deixaram ir na ambulância, por isso fomos atrás no carro. Quando chegámos ao hospital ficámos à espera. Só uma hora depois é que apareceu um pediatra que nos levou para uma salinha, onde nos comunicou o falecimento do nosso filho", explicou Ana Rita.
"No espaço de um ano perdemos dois filhos no hospital de Portalegre. Em novembro de 2020, a Ana, grávida de 36 semanas, teve dores. Nessa altura chamámos o 112 e apareceram os bombeiros. Nada de VMER. Quando chegámos ao hospital a médica que viu a Ana Rita disse-lhe para tomar ben- u-ron. Seis dias depois, quando voltámos ao hospital, a ecografia revelou que o nosso bebé estava morto", contou Osvaldo, acrescentando que, "por isso, a gravidez do Gabriel foi acompanhada no Hospital Garcia de Orta, em Almada".
O representante da Ordem dos Médicos da região de Portalegre, disse à TSF que "o que aconteceu neste caso, não quer dizer que se os meios de emergência pré-hospitalar estivessem disponíveis o desfecho tivesse sido outro". "A questão é que chegamos ao fim do dia e sabemos que não oferecemos todos os meios e recursos disponíveis. Isso sim tem de nos fazer pensar."