Deveriam ter seguido toneladas na Páscoa para França e Holanda, mas as vendas pararam e os produtores estão desesperados. Ao crescer perdem valor.
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Em vez de seguirem para França, Holanda ou para solo português, a pandemia fez com que as ostras ficassem na ria de Aveiro, uma das zonas mais produtivas do país, perdendo valor e causando dificuldades financeiras aos cerca de 30 produtores. Nos viveiros localizados na Gafanha da Encarnação, Ílhavo, há muitas toneladas de produto que, não fosse a covid-19, teriam sido consumidas esta Páscoa.
Aquele período é, a par com o Natal, uma das épocas fortes para quem exporta ostras para os referidos países. Quem vendia para o mercado nacional também ficou com o produto, já que era sobretudo consumido por turistas e em restaurantes.
Futuro incerto
Pedro Pereira, que tem um viveiro na Gafanha da Encarnação, contou ao JN que as ostras "ficaram na água e estão a crescer, perdendo valor". Segundo explica o produtor, muitas seriam, nos primeiros meses do ano, "número 3" (pesam entre 67 e 80 gramas por peça), que é o tamanho mais vendável para quem exporta para França. Quando estiverem novamente em condições de vender, serão "número 1" (mais de 110 gramas), que "custam menos de metade e quase não têm procura por serem mais "enjoativas"". Se as primeiras podem ser vendidas pelo produtor a três euros o quilo, as outras saem a cerca de um euro, adianta.
As 20 toneladas que Pedro Pereira contava ter vendido por altura da Páscoa, ficaram na água e o futuro é incerto. No Natal "vai ser uma incógnita, porque os franceses também não venderam o seu produto e haverá muita ostra no mercado", baixando os preços.
As ostras de Francisco Avelelas, que no ano passado vendeu sobretudo para o mercado nacional, também estão na água. "Não há clientes, não se vende", resume, estimando que, nesta altura do ano, teria vendido 3500 quilos.
O tipo de ostra que ele e muitos produtores da ria cultivam, explica Francisco Avelelas, tem uma "janela de venda curta", já que começa a ovar no final de abril para se reproduzir. No verão não se vendem porque "têm menos qualidade e muitas pessoas não gostam de sentir as ovas". "Estivemos a engordar e a valorizar o produto para termos ostras com mais qualidade no final de março e abril, mas não as conseguimos vender". Agora, lamenta, mesmo que os turistas regressem, só poderão ser comercializadas a partir de finais de outubro, após a desova.
Também Paulo Melo, que produz ostras e outros bivalves na região, notou "uma queda grande" durante o estado de emergência. Nos primeiros meses deste ano teria vendido "cerca de 20% da produção de ostras".