A mobilidade e a habitação dominaram, esta terça-feira, o debate autárquico promovido pela Ordem dos Engenheiros - Região Norte e pelo JN com oito dos 12 candidatos à Câmara do Porto. Do caos na VCI, à ampliação do Aeroporto Sá Carneiro, ao TGV, aos transportes públicos e à mobilidade suave, das três torres da futura Avenida de Nun' Álvares à construção de habitação social e às cooperativas, ouviram-se argumentos à esquerda e à direita.
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"A ação de um autarca depende muito da qualidade da engenharia que tem próximo de si. Senão, temos obras feitas de costas voltadas para a cidade", afirmou o presidente da Ordem dos Engenheiros - Região Norte (OERN), Bento Aires, abrindo a discussão.
"Há mais de seis anos, tivemos um grupo de trabalho que definiu uma dezena de medidas para a VCI. Até hoje, tivemos zero medidas implementadas", explicou o vice-presidente da Câmara do Porto e líder do movimento "Fazer à Porto", Filipe Araújo, criticando a "total ineficiência do Estado".
Manuel Pizarro, do PS, lembra que 67% dos carros que circulam na cidade vêm de fora do Porto e, por isso, urge ter "uma perspetiva metropolitana". Quer ainda passes gratuitos para os maiores de 65 anos.
Pedro Duarte, da coligação PSD/CDS-PP/IL, quer o fim das portagens na CREP e portagens na VCI para os pesados. Já os transportes públicos devem ser gratuitos para todos (são 25 milhões de euros/ano que, diz, iria buscar à taxa turística - este ano estimada em 28 milhões de euros - e ao aumento das tarifas de estacionamento).
Para Miguel Corte-Real, do Chega, o problema é "a falta de planeamento": "obras que se arrastam", "más opções" e "PS e PSD que só se lembram da VCI de 4 em 4 anos".
Nuno Cardoso, da coligação NC/PPM, diz que enterrar a avenida AEP é uma das soluções, a par com uma frequência de cinco minutos para os autocarros da STCP. Guilherme Jorge, do Volt, quer investir 22 a 65 milhões de euros em bicicletas de uso partilhado. Hélder Sousa, do Livre. concorda, mas também quer mais transportes públicos, mais corredores bus e a expansão da rede de metro. "Como é que tiramos os carros do centro histórico, se todos os parques de estacionamento estão no centro histórico? Isto é um problema de planeamento", frisa Sérgio Aires, do BE.
Em matéria de TGV, Filipe Araújo já só quer "ver o comboio a andar" e Sérgio Aires lamenta que, "mais uma vez", o projeto não tenha sido discutido com as pessoas. Pedro Duarte defende as paragens no Aeroporto e em Campanhã. Já Nuno Cardoso, Miguel Corte-Real e Guilherme Jorge não concordam com três estações em menos de 20 quilómetros. Hélder Sousa diz que, com o TGV, já não é preciso ampliar o Aeroporto e Guilherme Jorge concorda. Para todos os outros, a Câmara deve bater-se pela ampliação.
Mais habitação?
Filipe Araújo quer construir mais 1400 a 2000 casas municipais. O PS promete 5000 fogos com renda acessível prontos em quatro anos, apostando em parcerias público-privadas e cooperativas, já o BE quer sete mil. Pedro Duarte diz que é preciso um esforço na requalificação para acabar com os 20 mil edifícios devolutos. Já para o Chega, o Porto não precisa de mais habitação social. Urge é aumentar a fiscalização e tirar das casas municipais "quem não precisa". Nuno Cardoso aposta nas cooperativas de habitação para resolver o problema. O Livre lamenta os três mil que vivem em condições indignas e os 32 mil agregadas com pobreza energética e o Volt quer mais habitação pública como forma de equilibrar as rendas.
O que eles disseram
Filipe Araújo, Fazer à Porto
"Quanto às rendas acessíveis, quem puder pagar os 800 euros vai pagar, quem não puder vai ser ajudado. A justiça social não é dar tudo a todos"
Nuno Cardoso, Porto Primeiro
"Temos duas empresas de transportes rodoviários - a STCP e a Unir. Os STCP têm que absorver o UNIR. Duas empresas só serve para termos mais alguns lugares públicos e um sistema que não se coordena"
Miguel Corte-Real, Chega
"Um projeto que envolve meio Norte Shopping e mais de 400 casas? Não percebo porquê tanta pressa para aprovar em final de mandato. Não me parece bem"
Sérgio Aires, BE
"Defendemos mais habitação pública. Sem-abrigo nem sequer temos números, há 1300 pessoas em alista de espera para habitação social e três mil agregados sinalizados na Estratégia de Habitação"
Guilherme Jorge, Volt
"Três estações do TGV em 20 quilómetros não faz sentido. Campanhã é o local apropriado. O Aeroporto se calhar não sentido. Há metro e para Santo Ovídio também"
Manuel Pizarro, PS
"O transporte público é pouco confiável, pouco confortável e a verdade é que não temos hábitos. A cidade está toda pensada para o automóvel. 44% são ruas estradas e espaços pavimentados. Temos que mudar isto"
Pedro Duarte, PSD/CDS-PP/IL
"Quanto ao Aeroporto, devemos ouvir técnicos. Ampliar o "Sá Carneiro" é uma grande oportunidade para todos nós e uma aposta estratégica para a região"
Hélder Sousa, Livre
"Devíamos estudar a possibilidade de enterrar o TGV na zona de Campanhã, evitando demolições. A alta-velocidade é uma oportunidade que não devemos desperdiçar e, com o TGV, não vamos precisar de aumentar o aeroporto"
