O Festival das Artes em Madeira de Paredes decorre até dia 9 e homenageia mestres e artesãos do concelho. Entre as várias atividades há oficinas de escultura para aprender os segredos de uma arte em vias de extinção.
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"Façam assim, ao través, que assim vai para onde nós queremos. Quando é nos rostos, tira-se só bocadinhos pequeninos". Carlos Ferreira, escultor de madeira, dá dicas e tira dúvidas sobre as melhores madeiras, as ferramentas e técnicas a usar. Ele é o protagonista de uma Oficina de Escultura do Festival de Artes em Madeira de Paredes, que até dia 9 promove várias atividades de homenagem aos mestres e artesãos da madeira do concelho.
Mas Carlos Ferreira lamenta a falta de interesse dos mais jovens e teme pelo futuro destas artes: "Gostava que isto tivesse continuidade, mas acho muito difícil. Isto vai acabar porque não tem seguidores. Os jovens não têm interesse. Vai ser muito difícil conservar esta arte".
O escultor, natural de Rebordosa, é um autodidata e trabalha com a madeira há décadas. Começou na talha, aos 13 anos, mas foi na escultura que encontrou a vocação. "Aprendi a ver e a ouvir os mais antigos", recorda. Naquele tempo a talha era "uma arte requisitada e bem paga" e valorizada.
Agora não é assim. Ele, que faz escultura, sobretudo de arte sacra, também sente que há menos procura, até pelo preço. "As pessoas não reconhecem tanto valor nestas peças", refere. Carlos Ferreira entende que este Festival é importante para promover a arte e "mostrar que em Paredes também se fazem coisas boas".
Na sua oficina, em Lordelo, recebeu quem quis aprender mais. Caso de César Costa, de Alfena, neto de fabricante de brinquedos de madeira e apaixonado por esta matéria-prima. É da área do teatro e da cenografia e, ele próprio, começou recentemente a fazer experiências de brinquedos. Quis aprender mais. "É importantíssimo preservar as artes da madeira. Não sinto que haja interesse da juventude em aprender. A arte em madeira exige paciência", sentencia.
Frederico Carvalho, que veio do Marco de Canaveses, discorda. "Acho que não há poucos jovens a querer aprender, não estamos é a conseguir chegar a eles. Sinto que há jovens estrangeiros que não perdem oportunidades de participar em workshops desta natureza", refere, defendendo que é preciso deixar a ideia de cursos de três anos e ensinar em workshops deste género. Ele, que tem um projeto de Escola da Floresta, quis vir aprender para depois ensinar as crianças.
Preservar memórias
Até dia 9, o Festival de Artes em Madeira conta com roteiros, exposições, oficinas de escultura e da arte da talha, dança, música, teatro, fotografia, escultura e performance. "Neste festival procuramos homenagear todos os mestres e artesãos que estão de certa forma ligados às artes da madeira e do mobiliário e preservar memórias. As mãos dos entalhadores, dos carpinteiros, dos torneiros, dos escultores de madeira moldam a identidade e a indústria de Paredes", salienta o presidente da Câmara, Alexandre Almeida.