O brasão setecentista do Parque da Prelada há de redescobrir o brilho primordial que o imigrante italiano Nicolau Nasoni (1691-1773) arquitetou para a quinta de Ramalde.
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O mesmo portão da Avenida das Camélias também há de dar a novos espaços, para concertos, teatro e fruição lúdica. Tudo ao ar livre, na reserva verde das bordas da VCI. É o projeto revelado ao JN pela dona do espaço, a Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP): "Temos PIP aprovado, aguardamos consenso de várias entidades", diz o provedor, António Tavares.
O PIP, Plano de Informação Prévia, procede o licenciamento de construção, ampliação, alteração, conservação ou demolição. Também avalia, entre outras, restrições de utilidade pública ou patrimoniais. O do Parque da Prelada espera, agora, arrancar de vez: "Ainda temos de obter aprovações da Câmara e também da Direção-Geral da Cultura, porque se trata de uma quinta nasoniana. Queremos fechar todo o modelo de negócio até ao final do ano. Pelo menos, arrancar as obras este ano", diz o provedor.
O projeto também prevê um parque para 60 autocaravanas. Está orçado em 2,5 milhões de euros e será inteiramente suportado pela SCMP. "Aqui não chega a bazuca", observa o provedor, que ainda negoceia a permuta de terrenos com a Câmara. Cede uma faixa na demarcação norte do parque, para ampliação da Rua da Luzia, e pede, em troca, terrenos municipais para juntar à ala poente do enclave da quinta, a sul da VCI, a que se acede por passagem subterrânea, aberta em 2013.
No mesmo ano, foi restaurada a Casa da Prelada, outra obra de Nasoni, onde ficou o arquivo histórico da SCMP. Foram também recuperados os jardins nasonianos.
"Queremos um ambiente bucólico, um pulmão nesta parte da cidade, vocacionado para a cultura, para o turismo da natureza e para o desporto", diz António Tavares. Ainda de 2013, sobra, precisamente, o protocolo da área desportiva, mantido com o Sport Club do Porto, que instalou o centro hípico na Prelada, num contrato que, segundo o provedor da SCMP, é válido para dez anos. "É em regime de comodato, puro e duro. Foi para dar resposta a uma instituição do Porto a quem mais ninguém no município podia receber. Mas nunca queremos assumir compromissos de fôlego, porque não queremos criar qualquer tipo de ónus, de rendas ou doutras coisas quaisquer, e ficar presos para o futuro", afirma António Tavares.
O provedor verifica, contudo, que "não há nada de relevante" que impeça a renovação do protocolo em regime semelhante e que o projeto até prevê a construção de um novo picadeiro, "mais de exibição", bem como nova entrada para o centro hípico, designadamente para transporte de cavalos.
"Podemos ter uma conjugação muito interessante entre a atividade equestre e a vocação lúdica e recreativa da quinta. Uma parceria é precisamente isso, um equilíbrio de interesses e de boas vontades", conclui o provedor.
Centro hípico aguarda melhoria das instalações
"Novo picadeiro? Não tenho conhecimento", disse ao JN o presidente do Sport Club do Porto, que mantém o centro hípico na Prelada, em cinco hectares (metade da superfície da quinta). "Queremos reforçar a operacionalidade das nossas instalações. Algumas das iniciativas que gizámos aguardam que a Santa Casa desenvolva algumas componentes. Se o projeto for para a frente, ainda bem. Já temos dois picadeiros cobertos e três descobertos, um destes até com dimensões olímpicas. Precisam de ser rentabilizados, para que o centro hípico entre em velocidade cruzeiro", afirma Paulo Barros de Vale.
Pormenores
Dragão sem espaço - A Misericórdia chegou a negociar com o F. C. Porto para a instalação de escolas de futebol do clube na Prelada. "A ideia caiu, por falta de espaço", diz o provedor.
Interpretar Nasoni - A requalificação do parque da Prelada prevê a instalação de um centro de interpretação da arquitetura de Nicolau Nasoni, autor do plano original da quinta.
Entradas pagas - Encerrado ao público desde 2006, o parque reabrirá com limitações de visitas e com entradas cobráveis. A tabela não está definida. "Tem de ser autossustentável", observa o provedor da Santa Casa.