Uma em cada seis chamadas de voz não consegue concluir-se no concelho de Bragança devido às deficientes comunicações móveis, alertou esta sexta-feira a Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom) durante a apresentação do diagnóstico da Avaliação do Desempenho de Serviços Móveis e Cobertura GSM, UMTS e LTE realizado a pedido do município brigantino, onde em muitas localidades, junto à fronteira, os utilizadores usam o roaming das operadoras espanholas.
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O presidente da Anacom, Cadete de Matos, confirmou os problemas referindo que "é típico nos concelhos junto da raia, mais a norte do concelho de Bragança, embora também já aconteça em aldeias mais distantes da fronteira, porque as operadoras nacionais não têm rede". Mesmo assim, o roaming espanhol nem sempre funciona bem.
"A qualidade não tem os parâmetros que as pessoas necessitam, mas é preferível ter esta rede do que não ter rede nenhuma. Há este paradoxo. Estamos a pagar as chamadas ou o acesso à Internet aos operadores espanhóis quando podia haver partilha entre os operadores nacionais, esperamos que isso aconteça e que os operadores nacionais partilhem as antenas para benefício dos seus clientes", explicou o responsável da Anacom.
Os níveis de acessibilidade ao serviço de chamadas de voz são de 86,1% na Meo, 88,5% na Nos e 90,6% na Vodafone.
O estudo feito no terreno entre os dias 8 e 17 de novembro, com uma amostra de 1572 chamadas de voz, 378 sessões de dados e 12.7713 medições de sinal rádio, indicou ainda que continuam a existir localidades junto à fronteira, onde não é possível efetuar chamadas com telemóvel, nem para o número nacional de emergência (112) porque nem os três operadores nacionais, nem o roaming espanhol funcionam.
Embora o diagnóstico aponte também que a qualidade do serviço muda consoante o operador, observou-se que "existem muitos locais sem sinal de rede" nos 660 quilómetros percorridos pelos técnicos da Anacom. O sinal da Nos é inexistente em 5% das amostras e a qualidade muito má ou má chega aos 32%. No caso da Vodafone em 3% da amostra o sinal é inexistente e a qualidade muito má ou má em 24%. A Meo tem sinal inexistente em 7% das amostras e a qualidade muito má ou má em 18%.
O diagnóstico concluiu que "globalmente as três operadoras apresentam coberturas deficitárias em algumas zonas", refere o diagnóstico.
O serviço de dados no concelho "tem uma qualidade bastante baixa, evidenciando que este serviço é fraco em algumas zonas, com muitos testes negativos e baixas velocidades de transferência de dados", segundo a Anacom.
A Nos é a operadora com pior serviço de acesso à Internet, apenas 68% da cobertura, seguida da Vodafone com 77% e da Meo com 79%. Confirmou-se ainda que existem vários locais sem sinal de rede, que no caso da Meo chega aos 7%. Em vários locais os utilizadores acabam por usar o roaming das operadoras espanholas.
O diagnóstico das comunicações no concelho de Bragança foi o quarto a ser realizado neste distrito, depois de Miranda do Douro, Vimioso e Vinhais. "Concluiu-se que a situação é similar nos quatro, mas em Vinhais em cada cinco chamadas falhava uma. Vinhais, Vimioso e Miranda do Douro tinham uma situação mais gravosa em termos de cobertura de Internet, principalmente em Vinhais onde mais de 50% do concelho não tem acesso à Internet. Aqui em Bragança em 20% não há acesso à Internet", referiu Cadete de Matos que diz que a situação precisa de ser corrigida. "Com o fim do leilão do 5G, as empresas que ganharam os concursos têm que fazer os investimentos e estamos em condições de assegurar que nos próximos dois anos todas as freguesias vão ter cobertura de rede móvel até 75% da população e em quatro anos tem que cobrir 90%", acrescentou.
Portugal vai passar a ter cinco operadoras de comunicações, uma delas grossistas.
O autarca de Bragança, Hernâni Dias, pede melhores comunicações no concelho. "Nós pretendemos saber o ponto da situação em que estamos a esse nível e perceber de que forma é que podemos investir para resolver os problemas de cobertura da rede. Vamos pegar no diagnóstico e conferir conjuntamente com os presidentes de junta se as situações se verificam no terreno para comunicarmos à Anacom para que esta consiga pressionar na abertura de execução das redes para ter essa cobertura tão ansiada pelas populações", afirmou o autarca.
A Anacom fez oito diagnósticos a nível nacional a pedidos dos municípios, além dos concelhos transmontanos foram analisadas as comunicações em Mondim de Basto, dois municípios no distrito de Leiria e um na Ilha de Santa Maria (Açores). "Todos têm em comum que nos centros urbanos a qualidade da rede é muito melhor do que nas aldeias e nos meios rurais, é uma situação que tem que ser corrida porque há zonas em que não é possível fazer uma chamada para pedir auxílio para o 112. É uma situação gravosa e esta é a prioridade, e depois melhorar o acesso à Internet", observou Cadete de Matos.