Projeto Ópera na Prisão ganha um espaço para ensaios e espetáculos, que envolvem cerca de 150 pessoas
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Tiago, 26 anos, realizou um sonho quando atuou, pela primeira vez, em frente a uma plateia, no espetáculo Ópera na Prisão, em 2015. O recluso do Estabelecimento Prisional de Leiria - Jovens (EPL-J) é um dos 50 que participam no projeto artístico, que tem amanhã, sexta-feira, mais um momento alto, com a inauguração do Pavilhão Mozart - Centro de Artes Performativas no interior do estabelecimento prisional. É nesta sala de ensaios que irão decorrer aulas de canto e oficinas de criação artística, na área do teatro musical, dinamizadas pela SAMP - Sociedade Artística e Musical dos Pousos.
O jovem garante que este projeto lhe mudou a vida, pois passou não só a gostar de ópera, como a cantar ópera. Além de ter aprendido a controlar a voz e a respirar, destaca o afeto e o carinho que sentiu e o facto de ter feito novos amigos. "Trouxe muitas coisas boas, que eu tinha de vivenciar para perceber, como respeitar, ouvir e trabalhar em grupo", acrescenta. Experiências com as quais diz que não teria contactado, se não estivesse detido no EPL-J.
Familiares alinham
Continuar ligado à área da música, depois de cumprir a pena, tornou-se, assim, um objetivo para Tiago, que canta e dança nos concertos, nos quais a mãe também colabora. Coordenador do Projeto SAMP Pavilhão Mozart - Ópera na Prisão, Paulo Lameiro explica que se entendeu que a participação da família, nas áreas do canto, da dança e do teatro de ópera, era muito importante. E a recetividade à ideia foi tão boa, que há 90 familiares envolvidos no projeto, que aproveitam, por vezes, as visitas para ensaiarem juntos.
Quanto aos reclusos, o coordenador do Projeto SAMP Pavilhão Mozart explica que nem todos querem ser vistos, pelo que dão apoio nos bastidores: na criação de cenários e de figurinos, na programação ou na edição.
Provenientes, sobretudo, de meios desfavorecidos, têm, assim, oportunidade de participar num projeto inovador, que iniciou em 2014. "É uma atividade disruptiva, pois envolve um trabalho criativo radicalmente novo, que lhes permite acolherem ideias novas, e ganhar e ampliar competências e aptidões."
O projeto artístico conta ainda com a participação de técnicos do EPL-J, de profissionais de mediação, e de artistas profissionais, entre os quais três compositores. Paulo Lameiro revela que, agora que as obras no Pavilhão Mozart estão concluídas, os equipamentos de som, de edição e de vídeo instalados, e o software que possibilita transmitir som e imagem em tempo real, a meta é criar três pequenas óperas, que serão ensaiadas e apresentadas no novo espaço, e uma grande ópera, que estreará em junho de 2022.
Até ao momento, foram realizados dois concertos de ópera de Mozart no EPL-J, razão pela qual o pavilhão recebeu o nome do compositor austríaco.