Pedalar com propósito, do Porto a Lisboa, em homenagem a vítimas de doença pulmonar
Se a força de vontade tivesse rosto, poderia ser o de José Coelho ou o de Augusto Ferreira. Estes amigos receberam um transplante de pulmão e agora vão de bicicleta do Hospital S. João, no Porto, ao Hospital Santa Marta, em Lisboa, em homenagem a quem não teve a mesma sorte e aos que lutam contra doenças pulmonares.
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Esta comitiva de duas pessoas, à qual se juntarão mais oito ciclistas em Torres Vedras, partiu do Porto às 9 horas e tem pela frente cerca de três dias intensos, com etapas de, aproximadamente, 120 quilómetros.
"Vamos pedalar com vontade de vencer e de chegar ao destino. As pernas podem doer, mas metemos pomada e seguimos. Nem que sejamos amarrados à bicicleta e puxados por um carro, mas vamos cumprir a missão", garante José Coelho, de 64 anos.
O percurso, que será realizado sob o lema "pedalar com propósito", já tem a rota definida. A primeira paragem será Coimbra, seguindo-se Fátima e Torres Vedras, onde se juntarão os amigos de Augusto Ferreira, de 60 anos.
Depois, está ainda programada uma receção na Câmara Municipal de Lisboa, antes da chegada à meta, o Hospital Santa Marta. As motivações para esta aventura são nobres.
"Esta é a nossa forma de homenagear quem não conseguiu o transplante e ficou pelo caminho e para incentivar aqueles que aguardam pela sua vez", explicou José, natural de Penafiel e residente no Porto.
À sexta foi de vez
Se as dificuldades da vida os tornaram grandes amigos, José e Augusto, que se conheceram no Hospital São João, tiveram percursos muito diferentes. José começou a sentir-se cansado em exagero desde 2017 e, meses mais tarde, fez exames que lhe diagnosticaram fibrose pulmonar idiopática.
Foi chamado cinco vezes para um transplante pulmonar, sendo que a incompatibilidade com o órgão doado, ou mesmo a questão do tempo que demorava do Porto a Santarém, o fizeram ver essa operação adiada.
Mas à sexta foi de vez. "Só quem passa por isto sabe a dor que é. Sabe a expressão 'atropelado por um camião'? No meu caso parecia que tinha sido por um alfa pendular. Quando a operação aconteceu senti que tinha ganho o Euromilhões", contou José ao JN.
Já no caso de Augusto, a história é bem diferente. Desde criança que lhe foi diagnosticada bronquiectasia, que o deixava muito exposto a infeções e outros problemas. Esta doença condicionou-lhe a vida desde a infância.
"Queria jogar à bola e fazer outras coisas normais de uma criança com os meus amigos e não podia, além de que estava sempre a tomar antibióticos. Nestes últimos tempos já estava ligado a um ventilador, mas mesmo assim comprei um cesto, adaptei-o ao ventilador e fazia na mesma cinco quilómetros a pé todos os dias", revelou Augusto, que vive em Árvore (Vila do Conde).
Quanto aos momentos em que aguardava pela notícia de que seria transplantado, explica que são alturas de muito sofrimento. "Estamos sempre à espera que o telefone toque", admitiu.
Agora, José e Augusto ganharam uma nova vida e querem recuperar o tempo perdido. Pela frente têm uma aventura dura, que esperam conseguir terminar no prazo estabelecido, mas o mais importante é mesmo a vontade manifestada por ambos. "Enquanto pudermos, queremos continuar esta iniciativa".