Pedro Filipe Soares é o candidato do BE à Câmara de Matosinhos. Residente em S. Mamede de Infesta, o ex-líder parlamentar da bancada bloquista quer dar resposta a “uma mão cheia” de problemas estruturais, sobretudo à falta de habitação para as classes trabalhadoras.
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O que o fez mudar da política nacional para a local?
Tudo tem o seu tempo. Cumpri quase 15 anos de mandato como deputado e fui sempre líder parlamentar. Sempre vi isso como algo transitório. Por isso, senti que tinha que dar a vez a outro e decidi sair. Mas isso não significou uma saída da política. Agora, a participação local é aquela que faz mais sentido. Estando a viver em Matosinhos, faz ainda mais sentido que seja aqui.
Encara como uma mais-valia conhecer dossiês nacionais?
É uma mais-valia mas o que faz uma diferença mais profunda é conseguir dar respostas concretas aos problemas estruturais do concelho.
E quais são esses problemas estruturais?
É visível para as pessoas que os principais problemas são uma mão cheia que afeta estruturalmente o concelho. Começa pela falta de habitação em Matosinhos. Um concelho que chegou a ser conhecido por dar respostas às classes trabalhadoras, ficou parado no tempo, tendo entregue ao mercado as políticas de habitação e criando, por isso, dificuldades a quem cá quer ficar. É dos concelhos mais caros para se viver. Em segundo lugar, a mobilidade. É uma realidade que retira qualidade de vida e que decorre de políticas erradas.
Quais?
Há uma desigualdade de oferta de transportes entre o Norte e o Sul do concelho. A falta permanente de veículos, de cumprimento de horários, isso decorre da falta de ambição da Câmara de Matosinhos. Viu-se quando não teve força para retirar os pórticos da A4, quando vemos toda a discussão sobre o metrobus no Porto e falta uma coisa fundamental: a ligação a Matosinhos-Sul e é visível numa certa aceitação da falta de qualidade da UNIR.
Mas falou em cinco...
A questão do ambiente. Matosinhos diz ser a terra de horizonte e mar. Mas, muitas vezes, o mar está proibido. Isto é incompreensível. Há décadas que o problema persiste. A Ribeira da Riguinha é o efeito mais visível mas também há problemas na qualidade do tratamento dos resíduos. Há ainda a necessidade de salvaguardar a qualidade dos serviços públicos. Por exemplo, em Matosinhos, para as famílias que trabalham, é caríssimo responder às férias de Verão. Não há uma resposta pública para campos de férias. Esgotam em poucas horas. Faltam auxiliares nas escolas, apoio para os alunos com necessidades educativas especiais, sobrecarga de alunos em turmas. A que se soma um problema de falta de acessos a cuidados. Faltam camas de lares e somos confrontados com realidades como lares ilegais. Estruturalmente, faltam vagas em lares e em creches. Advém de uma falta de visão da Câmara de Matosinhos.
Como o BE faria diferente?
Na habitação, não se devia abandonar as cooperativas, que eram uma identidade do concelho. Para dar resposta às classes trabalhadoras, era necessário retomar as cooperativas e garantir que nos novos fogos privados haja uma quota obrigatória para a entrega ao mercado a preços acessíveis. É necessário também exigir uma nova fase de políticas de mobilidade. A UNIR tem que cumprir horários. Não é aceitável que não se exija a ligação a Matosinhos-Sul do metrobus, que se continue a aceitar o atraso na ligação do metro a S. Mamede de Infesta, ter políticas para se exigir o fim dos pórticos. No ambiente, identificar os focos de poluição. É algo que os concelhos ao lado já fizeram há décadas. Mas também não temos ambição no tratamento dos resíduos, por exemplo, implementando a recolha porta-a-porta como fez a Maia. No que toca ao acesso aos serviços públicos, políticas de campos de férias inclusivos, falta implementar com seriedade os objetivos da Carta Social do concelho.
Quanto à UNIR, devia de ser substituído o concessionário?
A Câmara de Matosinhos é um dos maiores concelhos da Área Metropolitana do Porto. Tem poder político suficiente para não estar dependente dos tribunais. Matosinhos não tem afirmado o seu poder político e tem demonstrado falta de visão. Temos que mudar o foco: o centro das preocupações políticas públicas tem que ser os cidadãos.
Qual será a sua prioridade?
O nosso lema é Matosinhos uma casa, uma causa. A habitação será um foco fundamental.