Novo espaço do restaurante estrela Michelin está a um passo do rio Douro. Mais amplo, mantém pratos clássicos da antiga casa na Foz Velha portuense, ao mesmo tempo que abre possibilidades, incluindo um bar e um balcão em plena cozinha.
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A 18 de setembro de 2024, Pedro Lemos mudou-se. Trocou sem alarido o restaurante que transporta o seu nome e a estrela Michelin daquela que ele continua a chamar "casa maravilhosa", na Foz Velha, para um bem mais amplo edifício não muito longe, meia hora a pé, na Rua do Ouro. A casa maravilhosa e recolhida deu a vez a um espaço de tetos altos e janelas rasgadas para o rio Douro. É o projeto de uma vida, a de Pedro Lemos e da mulher, Joana Espinheira, que encontraram este antigo armazém em 2018. Com a pandemia pelo meio, a construção do sonho levou o seu tempo, mas tudo foi pensado com a intervenção microscópica do casal. "Isto é 100% personalizado. Não quisemos seguir nenhuma tendência."
O novo ritual no novo Pedro Lemos começa no bar, espaço tranquilo que pretende proporcionar uma pausa nos "ritmos sociais intensos", onde o chef se apresenta aos clientes e traz um conjunto de snacks, "um vislumbre da nossa identidade", acompanhados de vinho, espumante ou cocktail. Pode ser um canelé recheado com sapateira, tarte com lula gigante dos Açores, abóbora assada em massa frita, e brioche frito com kimchi de couve roxa e pastrami de peito de pato. É desejo consolidar este bar como um posfácio para as refeições noturnas e, em tempo estival, abrir a porta a eventos que derramem para o exterior, onde pilaretes protegem o largo passeio do estacionamento de viaturas.
A generosa sala de refeições acolhe até 52 pessoas. Permanece a calma, em tons creme, os castanhos da madeira nas paredes, teto e soalho. O menu de degustação, com sete capítulos, é o mais representativo da arte de Pedro Lemos, mas também é possível compor menus personalizados, de quatro momentos, a partir da oferta à carta. Na modalidade degustação, a harmonização vínica abandona a exclusividade portuguesa, juntando-lhe referências europeias que podem contemplar Alemanha ou Itália. Os pratos alinham-se numa sequência com vários marcos familiares para quem passou pela Foz Velha: lírio dos Açores braceado, com pistácio em flan, creme e tostado, folha de chá verde desidratado e caldo de peixe com nabiças; a clássica e imbatível terrina de fois gras em vinho da Madeira, toque caramelizado e flor de sal, com ruibarbo e brioche; um intervalo com pão de centeio e trigo, mais manteiga de leite de cabra; lavagante com um toque de brasa, couve-flor e molho "tom kha gai"; corvina do Atlântico grelhada encimada com caviar Imperial e sala de algas, mais consomê com as carcaças da dita, aipo em picle, puré e terrina, halófitas e "beurre blanc" de lingueirão; pombo assado, cebolas, cantarelos, alcachofras e salada de couves; mousse de maracujá e manga, acompanhada de tártaro de manga fresca com sumo de lima e "ras el hanout", pérolas de sagu cozinhadas em xarope de frutos tropicais, e cocktail de coentros, leite de coco e tequila; e chocolate negro de São Tomé, baunilha, café e rum da Madeira, uma soma que resulta num tributo ao tiramisu.
"Estávamos a precisar de dar este passo, que é o resultado de 15 anos de aprendizagem", sublinha Pedro Lemos. "Infelizmente, o espaço antigo já nos estava a limitar. O novo lema diz, "É preciso mudar para ser fiel ao que sou"." Nesta mudança, e além do bar e da sala central, criou-se um espaço privado para refeições até 12 pessoas, destinado a clientes empresariais e famílias alargadas. Em breve, chega um projeto focado na cozinha regional. E chega também o Único, "o nosso camarote", um balcão com oito lugares em plena cozinha. Ali, "o menu dificilmente se repetirá", não tendo ligação com o que se come no espaço principal. "Os clientes veem a preparação do seu menu, a equipa interage, e observam toda a dinâmica do restaurante. Vamos focar-nos na nossa identidade base, os caldos e os molhos, e partilhar aquelas garrafas cuja venda eu tenho vindo a resistir, deixando que envelheçam de forma muito tranquila." O chef, que diz preferir sempre "a consistência ao efémero", está certo que, "a partir de agora, estamos num porto seguro. Sabemos que podemos seguir um caminho, a marca permite, a consistência do trabalho permite, e temos como explorá-lo."
Pedro Lemos
Rua do Ouro, 258, Porto
Tel.: 220 115 986
Web: pedrolemos.net
Das 12h30 às 15h e das 19h às 23h, de quarta a sábado
Menu de degustação, 160 euros/pessoa (275 euros com harmonização vínica; menus à carta, 100 e 130 euros/pessoa (sem bebida)