Eixo Atlântico propõe 112 medidas para combater as alterações climáticas, tendo o terceiro e último volume do plano sido apresentado, na tarde desta quarta-feira, na Póvoa de Varzim. O presidente do Eixo Atlântico, Luís Nobre, saúda as “medidas concretas”.
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A aplicação do princípio do poluidor-pagador nos resíduos urbanos, a opção por produtos locais ou empresas “amigas” do ambiente nos concursos públicos, a criação de espaços de reparação e reutilização, o combate ao desperdício alimentar ou a proibição de construção em zonas isoladas e não servidas por transportes públicos são três das 112 ações propostas pelo Eixo Atlântico para a descarbonização e adaptação às alterações climáticas. O terceiro e último volume do plano foi, ontem, apresentado na Póvoa de Varzim.
O presidente do Eixo Atlântico, Luís Nobre, saúda as “medidas concretas”. Já o autarca poveiro, Aires Pereira, alerta para o centralismo e diz que os autarcas têm, agora, um longo “trabalho político” a fazer para se “libertarem”, sob pena de tudo não passarem de “valorosas intenções”.
“É um estudo que se desenvolveu ao longo de três anos. É prático com medidas concretas e boas práticas. Não vimos cá fazer fotos”, explicou Xoán Mao, o secretário-geral da associação, que agrega 40 municípios do norte de Portugal e da Galiza e um território com mais de seis milhões de pessoas.
No total, são 112 ações que vão dos resíduos à energia, passando pelos equipamentos, espaços verdes, economia circular, mobilidade, compras públicas e educação ambiental até às comunidades energéticas. A estas somam-se 505 iniciativas de sucesso já em curso nos vários municípios e 85 implementadas fora do Eixo Atlântico, uma espécie de “livro de boas práticas” que se espera que seja “inspirador”.
Do lado certo da história
“A resposta ao apagão não pode ser ter cinco litros de água e uma lanterna. As cidades têm que ser autossuficientes em termos de energia”, frisou o coordenador do plano, Francesc Cárdenas. Mao vai mais longe: “o futuro não é o carro elétrico. É não usar o carro”. Reduzir consumos e ser produtor de energia são palavras de ordem.
“Estamos do lado certo da história”, frisou, no final, Luís Nobre, orgulhoso do trabalho desenvolvido.
“Não chega fazermos magníficos planos. Estamos a falhar coletivamente no combate às alterações climáticas”, alertou Aires Pereira. O presidente da Câmara da Póvoa de Varzim, que durante vários anos presidiu à Lipor, alerta para o excessivo centralismo – “físico e intelectual” – do país e dá exemplos: “Estamos em 2025 e continuamos com uma concessão de energia de 1980. Mudei para lâmpadas led e a minha fatura energética é a mesma. Tenho luzes na cidade ligadas durante o dia e não as consigo desligar. Não sou ‘dono’ da minha rede”. E continua: “Tenho um PDM a ser revisto desde 2019! Que país é este? Tenho um terreno, quero construir um Centro de Excelência para empresas da Economia Circular e, até hoje, não consegui convencer a CCDR-N da mais-valia do projeto para poder suspender o PDM naquela área”.
Libertar amarras do centralismo
A própria Lipor, salientou, andou “dois anos a convencer o governo” para se tornar na “primeira empresa pública com produção própria de energia”.
Portanto, rematou o edil, do lado português, “não é só implementar medidas”, é fazer “um trabalho político” para libertar as autarquias das “amarras” do centralismo, sob pena de “o impacto deste plano ser zero”.