A Câmara de Penela quer usar a tecnologia em favor do Queijo Rabaçal, cuja procura não dá sinais de crise. Na mira está um projecto - “Pastoreio Virtual 2.0” - para aumentar a produção de leite através de um sistema de monotorização e de gestão inovador.
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O projecto surge no âmbito da recente adesão do município à Rede Europeia de “Living Labs” - “laboratórios vivos”, em tradução literal -, e está a ser arquitectado pelo Instituto Pedro Nunes (IPN), um dos 15 parceiros. “Há cada vez mais dificuldade na produção de leite. Para que haja leite, é necessário que haja pastoreio. E as pessoas que hoje têm pequenos rebanhos começam a atingir alguma idade”, explica o presidente da Câmara, Paulo Júlio.
Daí a ideia de criar “outras formas de pastoreio”, um “novo conceito de proprietário [de cabras e ovelhas]”. “Utilizando as novas tecnologias, é perfeitamente possível ter pessoas, em Lisboa ou no Porto, que sejam proprietárias de animais em Penela”, adianta Paulo Júlio, sem querer alongar-se sobre o projecto, em fase inicial.
João Amílcar, responsável pelo Gabinete de Desenvolvimento Rural da Autarquia, escusa-se a falar do projecto do IPN, que diz ser apenas uma das abordagens possíveis ao conceito de pastoreio virtual. “Estamos receptivos a outros projectos”, diz.
Enquanto conceito geral, o pastoreio virtual pode incluir o recurso a um sistema de gestão do pastoreio através de sensores sem fios e sistemas de videovigilância instalados nas zonas de pastagem, que transmitem informação, em tempo real, a um servidor que, por sua vez, a canaliza para os computadores dos proprietários. “Não é ficção científica. É possível”.
“Imaginemos que um investidor, em Lisboa, abre o computador e vê um animal estendido no chão, através da videovigilância”, exemplifica João Amílcar. Ele pode contactar alguém, no terreno, para ir saber o que se passa.
Maria Benvinda dos Santos, à beira dos 66 anos, conduz uma das cinco queijarias tradicionais licenciadas no município. Fica na aldeia de São Sebastião. Há poucos anos, tinha 19 cabeças de gado e chegava a fazer 13 queijos por dia. Agora, com o rebanho reduzido a cerca de metade, devido a complicações de saúde, são uns “três ou quatro”. Os filhos “não querem saber da fazenda” e ali “não há mocidade para aprender a fazer o queijo”, conta.
Cada queijo rende entre quatro e cinco euros e não faltam clientes. Quando vai para o mercado vender, Maria Benvinda já leva os queijos em sacos com os nomes dos destinatários, nem chega a pô-los na banca. Também há quem lhe bata à porta, vindo de longe. Conclusão: “Compensa, monetariamente”. “As pessoas jovens não imaginam o rendimento que isto dá!”, observa o autarca. “Um casal que se dedique ao turismo rural pode ter uma queijaria”, sugere.
Paulo Júlio considera que, não sendo o Queijo Rabaçal um produto de elevada escala de produção, ainda assim “há margem para a base económica local tirar mais potencial da marca”. É esse salto quantitativo, com a abertura de mais queijarias de média dimensão, que defende. O problema, na sua perspectiva, é que “os impulsos que são dados no Programa de Desenvolvimento Rural – ProDeR são insuficientes”.
