Perda de bandeiras azuis faz temer pelo turismo em Espinho

Das seis praias de Espinho que ostentavam a bandeira azul em 2024, só três a mantêm este ano. A população teme perder aquele que é um dos principais fatores de atratividade de um concelho cuja economia é muito marcada pelo turismo.

Durante décadas, Espinho foi reconhecido pela excelência das suas praias, distribuídas pelos cerca de oito quilómetros de costa atlântica. Mas a interdição temporária de algumas delas no ano passado, devido a contaminação microbiológica da água, e a perda do galardão de qualidade em três praias, verificada neste ano, estão a gerar preocupação na designada Rainha da Costa Verde.

A praia do Pau da Manobra, na freguesia de Silvalde, foi uma das que perderam a distinção. “Ficámos sem a bandeira por causa da poluição, provocada principalmente pelas descargas na Ribeira de Silvalde”, explica ao JN o presidente da Junta, José Teixeira. Segundo o autarca, as descargas “já foram comunicadas às diferentes autoridades”. “A Câmara e a APA [Agência Portuguesa do Ambiente] têm conhecimento da situação, mas, até ao momento, o problema continua por resolver”, frisa.

José Teixeira aponta “as descargas pontuais de saneamento efetuadas pelas estações elevatórias” como uma das possíveis causas da poluição na praia.

Lamentável, mas justo

Face à situação atual, admite que a não atribuição da bandeira azul é compreensível, embora “lamentável”: “É justo, para nossa infelicidade. Temos uma ótima praia, parque de estacionamento e condições magníficas, mas isso não resolve o problema das descargas”.

Mais a norte do concelho, também as praias da Seca e da Frente Azul perderam o galardão. “É mau. Não é nada bom andar para trás nestas coisas”, lamenta Fernanda Barbosa. A moradora recorda que, no ano passado, as duas praias já tinham sido interditadas temporariamente após análises terem revelado níveis de contaminação. “Isto é prejudicial, sobretudo para os espinhenses. Estas praias são muito concorridas, com muita gente a deslocar-se até aqui”, destaca. “Não sei se é por falta de limpeza ou por poluição das águas, mas perder a bandeira azul nunca é bom”, reitera.

António Costa, outro residente, partilha a preocupação. “Não me surpreende que as praias estejam poluídas. Às vezes, sente-se um cheiro forte a esgoto vindo do rio Largo”, afirma. Esta linha de água, que desagua no mar naquela zona, “muitas vezes tem um cheiro intenso”, insiste.

“É uma vergonha”

Também o munícipe Nuno Alves considera a situação “inadmissível”. “A não atribuição da bandeira azul é uma vergonha para uma cidade turística. Temos praias em plena cidade e não nos podemos dar ao luxo de perder bandeiras”, critica, lembrando que há várias atividades que podem ficar em causa. Até porque, conforme faz questão de destacar, aquelas são zonas balneares “usadas todo o ano, inclusive por praticantes de desportos aquáticos”.

O JN tentou, sem sucesso, obter uma reação da Câmara de Espinho.

Feira garante condições na praia fluvial

A única praia fluvial do concelho de Santa Maria da Feira, que todos os anos atrai centenas de veraneantes, também perdeu a bandeira azul. A autarquia esclarece que a praia Fluvial da Mâmoa “mantém-se classificada como água balnear, com qualidade ‘boa’, segundo os dados oficiais da Agência Portuguesa do Ambiente”.

Refere ainda que, apesar de não ter sido atribuída a bandeira azul neste ano, “a situação não compromete em nada a qualidade da água nem a segurança da praia para banhos”.

“Nesta época balnear, a monitorização será reforçada, com análises semanais realizadas pela APA e pela Câmara, garantindo um acompanhamento rigoroso. Reafirmamos o nosso compromisso com a qualidade daquele espaço, assegurando condições de excelência para um usufruto seguro por parte da população e de todos os veraneantes”, acrescenta.

Detalhes

Areais do concelho
Em 2024 receberam bandeira azul a praia da Seca, praia Frente Azul, praia da Baía, praia da Rua 37, praia Pau da Manobra (Silvalde) e praia de Paramos. Além dessas, Espinho conta com outras praias, como a de Marbelo e a dos Pescadores que mesmo sem bandeira azul em 2024 são muito populares.

Falta de limpeza
A preocupação da população não se limita às bandeiras azuis. Em Silvalde, é frequente o acumular de areias na marginal por longos períodos, bem como a falta de limpeza num local que serve de entrada para os passadiços de ligação a Paramos e Esmoriz. Ali acumulam-se também dejetos de animais.