Família e advogado de homem que morreu atropelado pelo metro indignados.
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Mais de quatro meses depois, o local onde ocorreu o primeiro acidente mortal envolvendo o Metro Sul do Tejo, em Corroios, Seixal, está exactamente igual. O risco é visível para quem apanha o autocarro em plena linha.
"Ainda ninguém fez nada. Estão à espera que aconteçam mais acidentes e que morra mais alguém", alerta Celeste Teixeira, filha do casal de idosos que foi colhido no dia 8 de Julho na Avenida 25 de Abril por uma carruagem que circulava no sentido Corroios-Laranjeiro, quando atravessava a linha.
O pai, António Figueiredo, de 75 anos, morreu no local e a mãe, Maria Alice Figueiredo, de 76 anos, sofreu ferimentos graves e está ainda de cama, necessitando de ajudar para se levantar ou sentar.
Revoltada e indignada por nada ter sido feito para melhorar as condições de segurança, a família está a ponderar realizar um protesto simbólico quando passarem seis meses para alertar as autoridades para os riscos existentes.
"Há que tirar a paragem dali ou criar condições de segurança para as pessoas atravessarem", adverte o advogado Paulo Cunha, que ainda está à espera do apuramento das responsabilidades para interpor uma acção em tribunal a pedir uma indemnização pelos danos sofridos.
Alguns minutos apenas são suficientes para qualquer pessoa se dar conta da perigosidade da situação, principalmente quando um autocarro passa ao mesmo tempo que o metro. "Quem quer apanhar o autocarro tem de passar ali", salienta Paulo Cunha, lembrando que atravessar a rodovia não é solução, porque também não existe passadeira. "E ir no lancil é tão perigoso ou mais do que atravessar a linha", remata, considerando que o metro circula mais depressa do que os carros.
Apesar de ainda nada ter sido feito, as entidades com responsabilidades na matéria reconhecem o perigo. Fontes ligadas ao processo adiantaram ao JN que o Gabinete de Investigação de Segurança e de Acidentes Ferroviários está a agilizar o caso pelo facto de a manutenção do cenário actual poder resultar em mais acidentes. As conclusões devem, por isso, ser apresentadas o mais rapidamente possível, antes mesmo de terminar o prazo legal de um ano.
A Câmara do Seixal, que não prestou quaisquer esclarecimentos sobre este assunto, referiu, na altura do acidente, que para garantir a segurança tinha um projecto que incluía a criação de uma bolsa para os autocarros encostarem e de um passeio com cerca de dois metros para as pessoas aguardarem.
Contudo, o JN sabe que até agora a autarquia, que terá aprovado o modelo actual de funcionamento das paragens, ainda não nomeou um representante para integrar a comissão de investigação que foi constituída .
Frisando que a Metro Transportes do Sul apenas implementou no terreno o que estava previsto no projecto, o presidente José Luís Brandão recorda que a concessionária sempre se debateu pela diferenciação do espaço canal, uma proposta que não foi aceite pelas autarquias do Seixal e de Almada. "Era uma situação previsível. Felizmente, este foi o único caso de alguma gravidade, que é sempre de lamentar", afirma o responsável, acrescentando que "aquelas paragens não deviam lá estar".