Enquanto espera pelo leilão da energia eólica "offshore", Ocean Winds testa coexistência com atividades tradicionais a 18 quilómetros da costa.
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A Ocean Winds tem em curso projetos de implementação de pesca e aquacultura no parque eólico flutuante "offshore", WindFloat Atlantic, instalado a cerca de 18 quilómetros ao largo de Viana do Castelo. A empresa defende que a coexistência do empreendimento com atividades tradicionais é viável e está à espera do leilão de eólicas no mar em Portugal, para poder industrializar a exploração de energia do vento com torres flutuantes, em águas nacionais, nomeadamente, no espaço marítimo a norte de Viana do Castelo.
"Em coordenação com a Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM) e com a associação VianaPesca, poderemos ter aqui uma forma de demonstrar que a pesca é possível dentro do projeto. É nisso que estamos a trabalhar e espero que se materialize durante este ano. E a aquacultura também. Já temos vindo a colaborar com parceiros locais de Viana e espero também que esse projeto se materialize este ano ou em 2026", anunciou José Pinheiro, responsável da Ocean Winds na Península Ibérica, garantindo que para trás ficaram os tempos de dura contestação das comunidades piscatórias locais à ocupação marítima de 11 km2 pelas três torres eólicas, que foram ligadas à rede e produzem energia desde finais de 2019.
Atrai biodiversidade
Pinheiro afirmou ainda que uma investigação desenvolvida por biólogos marinhos, por iniciativa da empresa, a partir de 2022, permite concluir que o parque, que já faz parte da paisagem marítima de Viana do Castelo, tem "impacto positivo" nos "habitats", tendo designadamente um efeito de "reserva" de espécies.
"Ao cabo de várias campanhas sazonais, durante dois anos, podemos afirmar com mais certezas que o projeto - contrariamente ao que eventualmente possa estar a ser percecionado - está a ter impacto positivo", afirma o responsável, indicando que o empreendimento eólico "está a atrair mais biodiversidade e a biomassa é igualmente maior". Recorde-se que um dos principais argumentos da luta dos pescadores contra as eólicas "offshore" foi que estas deixariam o espaço marítimo deserto.
"Este estudo vai continuar para perceber se há outras dinâmicas que decorrem da nossa presença [no mar]", afirma Pinheiro, comentando, de resto, que a tecnologia de ponta instalada no mar está pronta para passar à fase da industrialização, mas isso "não depende" da empresa.
"Depende do Governo, independentemente de qual for, fazer esta aposta quer na transição energética, quer pelo lado económico, trazendo esta nova fileira industrial e tecnológica. A Ocean Winds para crescer em Portugal terá que ser adjudicatária mediante um processo de concurso [leilões], lançado pelo Governo", concluiu.
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Flutuantes e fixas
O responsável da Ocean Winds explica que as torres eólicas instaladas ao largo de Viana são distintas das fixas "ao leito marinho" utilizadas no mar na Europa do Norte. A flutuante "acaba por ser uma embarcação que tem uma turbina eólica", ao contrário da fixa.
Mais longe melhor
Pinheiro explica que "há uma correlação direta entre o afastamento da costa e a quantidade de vento disponível", pelo que "há mais potencial eólico longe da costa".