Familiares das vítimas da tragédia na Figueira da Foz estão desolados com o desfecho de uma manhã que deveria ser de lazer.
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Manuel Gonçalves tinha na pesca desportiva um "hobby". Sargento ajudante do Exército já aposentado, havia comprado a embarcação Seberino, há alguns anos, e tinha-a licenciado para organizar atividades marítimo-turísticas. Diz quem o conhecia que "exigia sempre que quem fosse com ele usasse o colete salva-vidas". E era costume Rui Ventura - mais conhecido, nas redondezas, por "Rui Beato" - e Paulo Veríssimo serem seus companheiros de pesca habituais.
"Tanto iam para a Figueira da Foz como iam para Peniche ou para a Nazaré. Faziam-no para passar um bom bocado. Por norma, até iam com outros colegas, mas desta vez esses não puderam. Acabaram por arranjar outros dois amigos para ir com eles", contou um familiar de Rui Ventura, que era mecânico de profissão.
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"Não sabemos o que aconteceu. O que sei é que as condições não eram as melhores, porque havia muito nevoeiro e o mar estava agitado. A minha única questão é: porque é que não fecham a barra, nestas situações, para as embarcações pequenas que não oferecem tanta segurança? É que eu confirmei e a barra estava aberta", lamentava um cunhado de Manuel Gonçalves.
Tanto as vítimas mortais como o sobrevivente eram naturais dos concelhos de Condeixa-a-Nova e de Cernache, localidades vizinhas. Segundo o JN apurou, Fernando Silva, de 67 anos, era reformado. E Mário Trota, de 51, empresário. Por isso, naquela zona, no sábado, o ambiente era de consternação e de pesar. Na Feteira, o café que Paulo Veríssimo explora com a mulher, Lídia, encontrava-se de portas fechadas e toda a localidade comentava e lamentava a tragédia.
Entrevista a António Lé, presidente da Associação de Produtores de Peixe Centro Litoral
O porto da Figueira é o mais traiçoeiro
O que é que pode ter causado um acidente destes?
Pode ter acontecido por vários motivos. Mas o porto da Figueira da Foz é o mais traiçoeiro que existe em Portugal e, se calhar, na Europa. Desde que foi feito o prolongamento do molhe norte, uma obra do porto da Figueira da Foz, houve um compromisso político para haver condições de segurança, através do desassoreamento, e essa promessa não é cumprida.
O que causa esse assoreamento?
Falta de água. Se tivéssemos muita água, não tínhamos este problema. Não tínhamos o mar a partir, a exercer toda a sua força natural e a causar tragédias deste género. Isto foi completamente catastrófico desde que fizeram a obra do molhe. Tem de ser feita prevenção e não é feita. Se calhar na próxima semana já aí aparecem dragas.
Mas as obras de desassoreamento estão prometidas?
Prometidas estão sempre, para calar o "zé-povinho". Mas já deviam andar aqui a fazer prevenção há um mês, para garantir a segurança de uma atividade regular como é a marítima, e nada. Se as obras fossem feitas, se calhar não se perdiam tantas vidas.