Embarcação das Caxinas afundou-se com quatro homens ao largo de Pedrógão. Três estão desaparecidos.
Corpo do artigo
Um homem de 42 anos, residente nas Caxinas, Vila do Conde, conseguiu, ontem, salvar-se do naufrágio de uma embarcação de pesca, nadando agarrado a uma boia. À hora de fecho desta edição, havia ainda três pescadores desaparecidos, dois indonésios, com 28 e 34 anos, e um marroquino, de 42 , com as buscas a concentrarem-se ao largo da praia do Pedrógão, Leiria, onde o mestre do barco foi resgatado. Também por localizar estava o "Letícia Clara", traineira pertencente a um armador de Vila de Conde.
O sobrevivente, Rui Camaço, surgiu junto à costa "agarrado a uma boia" (um artefacto cilíndrico de esferovite que serve para sinalizar redes), tendo sido retirado por dois elementos da Polícia Marítima que estavam nas buscas em terra. "Ao avistá-lo, entraram no mar com a balsa salva-vidas e trouxeram-no. Salvou-se uma vida", conta Pedro Costa, comandante da Capitania da Figueira da Foz.
Camilo Pedrosa, residente do Pedrógão, ainda viu o pescador dentro da ambulância antes de este ser transportado ao hospital de Leiria com sinais de hipotermia. Ontem à noite, autoridades marítimas afiançaram que estava bem.
O "Letícia Clara" tinha saído do porto da Nazaré à meia-noite de anteontem para pescar polvo. O último contacto do armador com a embarcação foi às 8 horas de ontem, com Rui Camaço a informar que "se encontravam a pescar na zona do Pedrógão", onde o barco, de 13,5 metros, costumava operar, e que pelas 10 horas estariam no porto da Nazaré. Ao início da tarde, o armador fez "várias tentativas de contacto", mas sem sucesso. Por volta das 14.15 horas, deu o alerta para a capitania da Nazaré.
Segundo Pedro Costa, pela 16.15 horas, o Centro de Busca e Salvamento de Lisboa acionou meios das capitanias e Polícia Marítima da Nazaré e da Figueira da Foz, para tentar localizar a embarcação desaparecida. O mestre seria retirado do mar pelas 18.15 horas.
Sem seguro
"As buscas demoraram a arrancar", afirmou ao JN Carlos Cruz, presidente da Apropesca - Organização de Produtores de Pesca Artesanal. O dirigente disse, ainda, que o "Letícia Clara" "não tinha seguro de embarcação, mas todos os tripulantes tinham seguro de acidentes de trabalho".
À hora de fecho, continuavam as buscas em terra, mar e ar, com um helicóptero da Força Aérea, duas embarcações salva-vidas e viaturas de todo-o-terreno da Polícia Marítima e dos bombeiros de Leiria e de Vieira de Leiria.
"Família do mar" a sofrer
"Nesta altura, o mar vem sempre buscar a consoada", afirmou, ontem, à noite, Adriano Santos. Tem 44 anos, é pescador há 20 e amigo de Rui Camaço há outros tantos. Na noite passada, também ele estava no mar, entre "ondas de três a quatro metros e muito vento". Ao início da tarde, quando a notícia do naufrágio do "Letícia Clara" chegou, achou que o mar lhe tinha levado mais um companheiro. Horas depois, chegava uma "meia alegria": Rui tinha sobrevivido ao naufrágio, mas os três homens que seguiam consigo continuavam desaparecidos.
"Foi um alívio", confessa, com as lágrimas nos olhos. Ali, no café Labamba, no coração das Caxinas, bateu-se palmas ao "mestre herói". "Quando há um acidente no mar, aqui sofrem todos e nós também. Esta é a nossa família", conta João Pontes que, com a mulher, Lúcia Gomes, gere, há 28 anos, o café que é ponto de encontro das gentes numa terra onde "todos se conhecem".
António Torrão diz que Rui "é um homem experiente", tanto mais que andou alguns anos no mar em Espanha, "nos mares gelados e perigosos do Norte". Terá sido essa experiência que o salvou.