Perto de 400 pescadores portugueses e galegos concentraram-se, ontem, no rio Minho, junto aos cais de Goián (Espanha) e Cerveira, em protesto por uma eventual decisão que venha a ser tomada pelas dois países, que os proíba de exercer a pesca do meixão com tela.
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O Regulamento de Pesca do Troço Internacional do Rio Minho em vigor há dois anos, estabelecia um período transitório até 2010, durante o qual decorreriam estudos destinados a avaliar o impacte do uso desta arte de rede muito fina no desenvolvimento do meixão (alevim da enguia), bem como em outras espécies piscícolas que se alimentam delas na fase juvenil.
Embora ainda se desconheçam os resultados desse acompanhamento, uma reunião técnica realizada em Caminha no âmbito da Comissão Permanente Internacional do Rio Minho (presidida pelos comandantes das capitanias de Caminha e Tuy) no passado dia 15 de Janeiro, destinada a apreciar os estudos efectuados até essa data, alertou os pescadores, culminando com esta concentração que reuniu perto de 200 barcos.
Decisão em meados do ano
As autoridades admitem proibir a pesca para evitar a extinção da espécie, mas a decisão será tomada na próxima reunião da Comissão Permanente Internacional do Rio Minho, que terá lugar em meados do ano.
"Há dados que apontam para uma diminuição de enguias no rio Minho, mas não estão fundamentados numa base sólida. Por isso, estão a ser feitos vários estudos para aferir da situação da espécie e da eventual ameaça de extinção. E será com base nesses estudos que será tomada a decisão", explicou, à Lusa, o comandante da Capitania de Caminha, Luís Alves.
Bandeiras portuguesas, galegas e espanholas ondeavam juntamente com os sacos das rapetas com os quais recolhem os meixões (angulas, em galego) que se encostam às telas quando a maré sobe, nas noites de lua nova.
António Cascais, pescador há 35 anos, da Direcção da Associação de Pescadores do Rio Minho e Mar, contente com a mobilização verificada, referiu-nos que "cortar a pesca do meixão é acabar com a sobrevivência de todos os pescadores", atendendo ao preço que atinge por quilo (350 euros) e à escassez de lampreia a que se assiste este ano no rio Minho.
E a poluição?
Embora admitindo que este tipo de pesca não seja bom para as espécies alevins que caem na tela, considera existirem muitas outras razões para a diminuição da pesca, como a "poluição" que afecta o rio e "ninguém se preocupa com isso".
Samuel Otero, líder da Associação de Pescadores do Rio Minho, com sede em Góian, de quem partiu a ideia inicial de convocar esta manifestação em conjunto com outras associações portuguesas, admitiu que "todos os que andamos à pesca da angula estamos aqui hoje", em defesa dos "nossos postos de trabalho".
Além da manutenção desta arte, pretendem continuar a pescar durante quatro luas e se possível, também na de Março, atendendo a que "devido ao mau tempo, perde-se sempre uma lua por ano", precisou, além de ser permitido pescar meixão nesse mês em vários rios europeus. Este pescador mostrou-se ainda preocupado com a pesca furtiva de meixão com saco que se verifica em muitos rios portugueses e que é escoada pelo rio Minho.
Também no país vizinho existem pescadores que se dedicam a esta arte de pesca como um "complemento" das suas reformas ou pequenos salários.