"É um barulho ensurdecedor até às duas e três da manhã! É insuportável!". O barulho é da pista de Guilhabreu, em Vila do Conde, que funciona ilegalmente. Os moradores das redondezas já bateram a muitas portas para tentar resolver a situação. Nada.
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Há cobrança de bilhetes, junta-se uma multidão para ver e a GNR já passou vários autos por falta de licença de ruído e de licença para recinto desportivo. Mas as corridas voltam ao sempre ao fim de semana. Os residentes criticam a falta de intervenção da Câmara de Vila do Conde.
Questionada pelo JN, a Autarquia não respondeu ao pedido de esclarecimentos, designadamente por que não fecha a pista ilegal.
Quem mora ali, numa zona rural a 13 quilómetros do centro da cidade, perdeu o sossego. Ana (nome fictício) tem medo de dar a cara. Na pequena freguesia com pouco mais de dois mil habitantes, todos temem. "Estamos a dez minutos do Porto, mas parece que estamos no Texas! É ilegal, toda a gente sabe e continua", atira a moradora.
As queixas são "mais do que muitas", mas todas feitas "em surdina", com medo das centenas que, ao fim de semana, invadem a freguesia para as corridas de carros, já para não falar que moram "paredes-meias" com o dono do espaço, que o JN também tentou ouvir, mas sem sucesso.
Na página do Facebook, o Drift Bar Guilhabreu assume que, "os fins de semana são dedicados ao drift e arranques". Não faltam fotografias dos "picanços" e da multidão que se junta.
Propriedade privada
Em 2018, as queixas começaram a cair na Câmara. "Dizem que é uma propriedade privada, mas que não foi objeto de qualquer licença", explicou Ana, mostrando a troca de correspondência com a Autarquia. A licença do espaço, que funcionava como centro de formação de condução, terá caducado em 2016. Desde aí, é palco de encontros de drift. No início era "de vez em quando". Depressa passaram a ser "três vezes por semana".
Ao JN, a GNR refere que, para a entrada nos encontros, há pagamento de bilhete. Diz ainda que já identificou o proprietário e três promotores das provas e que, em 2018, 2019 e 2020, fez "várias ações de fiscalização". Emitiu "cinco autos de contraordenação por falta de licença de ruído", que remeteu à Câmara para aplicação da coima, e sete por falta de licenciamento de recinto desportivo, que remeteu à Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE).
Há moradores que já se reuniram com a Autarquia, fizeram queixa ao Ministério Público, escreveram à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, aos ministérios do Ambiente e da Administração Interna, à Agência Portuguesa do Ambiente, ao primeiro-ministro e ao presidente da República.
Câmara notificou
Em resposta aos moradores, a Câmara diz que já "notificou o proprietário para legalizar o espaço e minimizar os impactos do ruído". "Até agora, nada!", reclamam.
Do lado da Administração Central, o processo está no Departamento de Contencioso do Estado e Interesses Coletivos Difusos.
Em 2019
GNR acabou com prova por falta de licença
Em abril de 2019, face às queixas dos vizinhos, a GNR interrompeu uma prova oficial de "drift" na pista de Guilhabreu por falta de licença de ruído. A organização era do Clube Automóvel do Minho, que alegou ter sido informado pelo dono da pista de que o circuito "reunia as condições necessárias" e que, já em 2018, se tinha ali realizado uma prova oficial do Campeonato de Portugal de Drift "sem qualquer problema". Eram esperadas, nos dois dias de prova, quatro mil pessoas. Foi cancelada.