Plantadas 1355 laranjeiras para preservar laranja de Ermelo por "mais oito séculos"
Cerca de uma centena de crianças de Arcos de Valdevez participaram, esta terça-feira, numa plantação de 1355 laranjeiras, para preservar a laranja de Ermelo.
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A fruta “não é bonita, mas é saborosa e mais doce” que outras da mesma família e, segundo reza a história, já é cultivada, pelo menos, desde o século XII num território com micro-clima, na zona da barragem de Touvedo.
A ação desta terça-feira, apoiada pela Rede Elétrica Nacional (REN) e realizada nos baldios da União de Freguesias de S. Jorge e Ermelo, teve por objetivo preservar “por, pelo menos, mais oito séculos” o fruto, cujo cultivo é atribuído aos monges de Cister, que ocuparam o mosteiro da aldeia.
“A laranjeira de Ermelo tem uma ligação" à região, "uma história longa de oito séculos", afirma o autarca da União de Freguesias de S. Jorge e Ermelo, Horácio Cerqueira, que admite querer que a "história" dure "outros oito [séculos], pelo menos”. Destaca ainda que “a ideia é criar condições para que se salve um produto que tende a desaparecer”.
A iniciativa foi promovida, segundo Pedro Marques da REN, no âmbito de “um programa de rearborização de faixas de servidão" (faixas de terra que acompanham o percurso de linhas de transporte de eletricidade), existente desde 2010 em todo o país.
“Temos cerca de 35 mil hectares de faixas de servidão, 23 mil hectares em espaços florestais . É como se tivéssemos uma autoestrada entre Lisboa e a Arábia Saudita”, declarou.
Pedro Marques adianta que, atualmente, a REN já tem “quatro mil hectares rearborizados”, com espécies como o medronheiro, sobreiros e oliveiras. Após um desafio lançado pela União de Freguesias S. Jorge e Ermelo, decidiu apostar também em árvores de um fruto autóctone como a famosa laranja da zona.
Doce, de casca lisa e fina, sem fibras e com poucas sementes, a laranja é colhida entre fevereiro e maio e é vendida à porta pelos produtores aos consumidores e intermediários. Também é servida por restaurantes locais como sobremesa, sozinha ou acompanhada pelo doce tradicional "Charutos dos Arcos".
As cerca de uma centena de crianças que participaram na plantação degustaram a fruta ao natural e em pratos criados pelo chef Álvaro Costa.
“Transformamos aquilo que é uma laranja extremamente doce e com um sabor incrível em pratos salgados: salada de laranja com alho, azeite, flor de sal e flores secas, e um pica-pau de galináceos, com perú, coelho, pato galinha, fumeiro, caldo de galinha, azeitonas e sumo de laranja”, contou o chef.
“A gente olha para ela e parece assim uma laranja tosca, mas esconde muito da potencialidade que tem lá dentro”, disse, defendendo que “tem de se dar a conhecer um produto destes e transformar a mentalidade do consumidor para adquirir não é o que é bonito, mas o que é saboroso”.
Pedro Martins, professor que acompanhou a prova, explicou que, para as crianças, "é um experiência" para "perceberem a realidade e a diversidade" do concelho. "Muitos já conhecem a laranja de Ermelo porque são desta zona e sabem que é uma laranja com características próprias, mais doce que a laranja normal. Eles gostam mais desta”.