
Canhão antigranizo instalado em Vila Nova é um dos 48 que vão ser colocados de Armamar até ao final de janeiro do próximo ano
José Ricardo Ferreira
Armamar, capital da maçã de montanha, investe dois milhões de euros em sistema para tentar minimizar impacto dos temporais.
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No concelho de Armamar foram instalados oito canhões antigranizo, de um total de 48 que até ao final de janeiro do próximo ano prometem defender os pomares de maçã de temporais, como aquele que se abateu no concelho em meados de junho e que destruiu 60% da produção. A nova arma contra o mau tempo vai cobrir todo o concelho, conhecido por ser a capital da maçã de montanha.
"Com esta dimensão, este é um projeto pioneiro no norte do país, é único", realça José Osório, presidente da Associação de Fruticultores e da Cooperativa Agrícola do concelho de Armamar, estruturas de produtores que estão a implementar este novo sistema.
As oito torres que estão apontadas para os céus já estão a funcionar. As primeiras foram colocadas nas zonas onde o granizo não caiu este ano, como Vila Nova e Santa Cruz, de forma a proteger a produção que ficou intacta. Segundo José Osório, os canhões já cumpriram a sua função na quarta e quinta-feira da última semana, dias de "muito mau tempo".
Mais barato e eficaz que redes
Os agricultores optaram pelos canhões em detrimento das redes antigranizo por o sistema se revelar "mais eficaz e pelo preço ser mais baixo". Ainda assim, serão investidos cerca de dois milhões de euros, um valor abaixo das perdas de 10 milhões registadas este ano.
Para o investimento ser uma realidade foi contraído um empréstimo bancário. Por cada hectare os produtores terão que desembolsar entre 150 a 200 euros. A Câmara de Armamar comprometeu-se a pagar os juros. Os fruticultores aguardam financiamento estatal através do Plano de Desenvolvimento Rural.
Só 40% da maçã se aproveita
A apanha da maçã em Armamar arrancou no início de setembro e termina no final de outubro. Por causa do granizo de junho, a produção caiu 60%. O fruto que foi tocado pela saraiva e que permaneceu nas árvores vai seguir para a indústria da transformação, sofrendo uma perda de 80% do valor comercial. Os fruticultores garantem que as maçãs que resistiram ao temporal são "de ótima qualidade" e merecem ser compradas. Vinte por cento da produção do concelho é vendida para o estrangeiro. Arábia Saudita, Líbano, Marrocos e Espanha são os principais clientes.
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Como funciona
Cada canhão cobre 80 hectares, protegendo não só os pomares, como também casas, quintais, terrenos agrícolas e florestais. "Os canhões são monitorizados por um radar. Se vier trovoada são acionadas todas as torres e elas começam a disparar ondas que dispersam a trovoada e o granizo é transformado em chuva ou granizo mais fino", explica o dirigente agrícola, acrescentando que as colheitas não são prejudicadas, nem o meio ambiente.
Barulho
Os disparos feitos pelos canhões até podem assustar. O barulho é semelhante a um foguete. Os fruticultores asseguram ter todos os pareceres de entidades como a Agência Portuguesa do Ambiente e Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional. "Faz muito barulho, mas compensa o prejuízo que temos", defende José Osório.
Exemplo espanhol
Os produtores de maçã de Armamar já estiveram em Espanha a ver em ação este sistema antigranizo. No país vizinho só ouviram elogios dos agricultores. "Eles disseram que depois de terem montado os canhões, o granizo deixou de os incomodar", conta o presidente dos fruticultores.
Produção
90 toneladas
de maçã são produzidas anualmente em Armamar. Golden, Reineta e Gala são as variedades mais cultivadas. O concelho tem mais de 100 produtores.
